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Although Vinicius had established his public figure through poetry and popular song, he was one of the greatest prose writers of his generation. As a matter of fact, a generation where the good prose of that time was crystallized through a chronic genre extremely characterized by the style of Rio de Janeiro city.
With a large number of newspapers that circulated in the city and with a team of writers which would vary from Rubem Braga to Carlinhos de Oliveira, from Carlos Drummond de Andrade to Clarice Lispector, from Fernando Sabino to Nelson Rodrigues, Vinicius sit among them as a chronicler who transmitted to the prose, the same reasons and the same lightness of style that he presented to the public in his poems.
RETRATO DE PORTINARI
Com o próximo casamento e partida para a Europa de minha filha Susana, andei arquitetando um meio de extorquir-lhe o meu retrato feito por Candinho Portinari em 1938, que ora lhe pertence, de que muito gosto e que deve ter, aliás, na obra do pintor, uma certa importância, pois foi o primeiro, ao que eu saiba, realizado com inteira liberdade, depois da grande série de “retratos sociais” (chamemo-los assim sem qualquer desdouro, nem para o artista, nem para os retratados) que ele andou pintando de alguns membros ilustres de nossa sociedade e de nossa inteligência. Lembra-me mesmo que ao me propor fazê-lo, sabendo que eu estava de partida para a Inglaterra, Candinho sugeriu-me, com aquela eterna rabugice sua, que eu o deixasse pintar livremente, pois estava um pouco cansado do gênero de retratos que fazia e que tanto afagavam a vaidade da maioria dos retratados. Sei que em duas poses, em sua antiga casa das Laranjeiras, o retrato estava pronto e era como se se respirasse um novo ar dentro dele. Dias depois, estando eu no cais para embarcar em minha primeira grande viagem, chega ele sobraçando o retrato, que me vinha oferecer.
A razão por que eu andei arquitetando extorquir o retrato a minha filha é simples: é que a minha Bem-Amada foi também retratada por Portinari nessa fase a que chamei “social”, e eu muito gostaria de ver um dia nossos retratos juntos na parede, as técnicas brigando um pouco, mas juntos na parede, como deve ser. Mas a primogênita foi inflexível, no egoísmo do seu amor filial. Cheguei mesmo à baixeza — sabendo que ela andava precisada de um dinheirinho para as miudezas do seu casamento — de propor-lhe comprar o quadro; mas a proposta a indignou sobremaneira, coisa que, no fundo, satisfez também meu orgulho de pai quanto ao seu bom caráter. Sugeri-lhe que ela o deixasse em consignação, durante o que ainda me restar de vida; pois sendo uma jovem de dezenove anos, e eu um homem de quarenta e cinco, às portas de tornar-me avô, o normal é que ela me facilitasse, diante do pouco tempo que me resta, essa pequena satisfação de juntar na mesma parede dois Portinaris que se amam, enquanto que a ela caberia muito mais tempo para usufruí-lo. Mas, sem ceder um palmo, a primogênita observou-me que nós, que temos Mello Moraes no sangue, somos gente muito longeva, e pode acontecer que, ao “abotoar o paletó”, como se diz por aí, eu esteja na casa dos noventa, como aconteceu com meu avô paterno. Obtemperei-lhe que fumo desde os catorze e bebo uísque desde os vinte e cinco, além de outras extravagâncias, e que o provável é que as coronárias, ou o fígado, mostrem antes disso os sinais do seu repúdio a esses excitantes. Mas minha filha retrucou-me no mesmo diapasão que meu avô fazia pior que isso: comia feijoada e peixadas “caindo de pimenta”, na avançada idade de oitenta anos, e que, a fiar-se na minha conversa, ela corria o risco de só entrar em posse do retrato quando macróbia ela própria, o que lhe subtrairia o prazer de dizer-se, enquanto moça, possuidora de um bom Portinari, ainda mais tratando-se do retrato do “meu pai”.
Embora tudo isso me tivesse deixado na maior consternação, suportei com o estoicismo de sempre essa nova prova de rebeldia dos filhos modernos, lembrando-me de que há meio século poderia perfeitamente reaver o retrato com dois berros e uma boa bolacha. Mas não há de ser nada. Pode levar o quadro para Marselha, filhinha… Conte vantagem para suas amigas de que você tem o retrato do seu pai pintado por Portinari. Os filhos modernos são assim mesmo — não conhecem mais a beleza da verdadeira devoção filial. Mas também eu lhe digo uma coisa: aproveite rápido do retrato, porque breve essa sopa vai acabar, e o antigo e sadio costume da palmatória voltará a prevalecer. E para começo de conversa, me faça o favor de agora em diante só dirigir-se a mim de olhos baixos e tratando-me de “senhor meu pai”!