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Although Vinicius had established his public figure through poetry and popular song, he was one of the greatest prose writers of his generation. As a matter of fact, a generation where the good prose of that time was crystallized through a chronic genre extremely characterized by the style of Rio de Janeiro city.

 

With a large number of newspapers that circulated in the city and with a team of writers which would vary from Rubem Braga to Carlinhos de Oliveira, from Carlos Drummond de Andrade to Clarice Lispector, from Fernando Sabino to Nelson Rodrigues, Vinicius sit among them as a chronicler who transmitted to the prose, the same reasons and the same lightness of style that he presented to the public in his poems.

 


Canto de amor e de angústia à seleção de ouro do Brasil
Vinicius de Moraes
Poesia/crônica

CANTO DE AMOR E DE ANGÚSTIA À SELEÇÃO DE OURO DO BRASIL


Minha seleçãozinha de ouro da Copa do Mundo de 1962 eu vos suplico que não jogueis mais futebol internacional não porque o meu pobre coração não aguenta tanto sofrimento eu juro que prefiro ver vocês disputando só aqui dentro do gramado nacional porque aqui a gente já sabe como é e embora eu torça pelo Botafogo ninguém vai morrer mas não é o mesmo a não ser talvez o meu bom Ciro Monteiro quando o Flamengo entra bem porque nós somos todos irmãos e briga entre irmãos se resolve em casa mas lá fora tudo é diferente eu quase tive um enfarte eu quase tive uma embolia tinha uma coisa que bulia dentro do meu cérebro eu acho que era o Puskás chutando minha massa cinzenta de tanta raiva filho de uma boa senhora vocês deviam é ter lhe dado um pontapé no cóccix vá ser oriundi ele sabe onde mas você Amarildo garoto lindo do meu Botafogo você representou o Rei à altura coitado do meu Pelé com aquela distensão na virilha se estorcendo em dores para maior glória do futebol brasileiro ele é que devia ser Primeiro-Ministro do nosso Brasil trigueiro sabe Pelé eu nunca chamei ninguém de gênio porque acho besteira mas você eu chamo mesmo no duro você e o meu Garrincha que eu louvo a santa natureza lhe ter dado aquelas pernas tortas com que ele botou a Espanha entre parêntesis garoto bom passou o primeiro passou o segundo o terceiro o quarto chutou GOOOOOOOOOL DOOO BRAAAAASIL que beleza maior beleza não tem nem pode ter toda raça vibrando com uma dispneia coletiva ah que vasoconstrição mais linda o sangue entrando verde pelo ventrículo direito e saindo amarelo pelo ventrículo esquerdo e se fundindo no corpo amoroso de pobres e ricos doentes de paixão pela pátria e até a revolução social em marcha para maravilhada para ver Seu Mané balançar o barbante e aí ela prossegue seu caminho inflexível contente da vida de estar marchando nessa terra em que são todos irmãos até mesmo os que amanhã podem estar regando com o seu generoso sangue este solo nativo onde seremos enterrados enrolados moralmente na bandeira brasileira ao som de “Cidade Maravilhosa” mas como eu ia dizendo não me façam mais aquilo do primeiro tempo com a Espanha porque senão vai ter um poeta a menos no mundo eu sei que poeta não resolve não dribla não encaçapa a não ser o Paulinho Mendes Campos a gente fica só mesmo é driblando a angústia o medo o amor a morte poxa eu estou agora meio doente acordo em sobressaltos eu acho que nem vou poder ouvir o jogo final senão eu faço feito aquele cara que estourou a cabeça contra um poste no fim do primeiro tempo com a Espanha porque é demais tanta ansiedade eu já não sou criança as coronárias não aguentam brasileiro é mesmo sentimental a gente chora porque a vida dói muito em nós conforme disse o Carlinhos Oliveira aqui não tem Marienbad não é tudo gleba feita do barro natal e lágrimas de amor até grã-fino sofre e é capaz de não ir ao Jirau para ver Didi mestre sereno da arte do balipédio Einstein da folha-seca ou então os Professores Nilton e Djalma Santos que precisam ser canonizados porque nunca pensam em si mesmos só em Gilmar pobrezinho mais sozinho do que Cristo no Horto no meio daquele retângulo abstrato no vórtice do qual se esconde o hímen da pátria-menina que todos nós havemos de defender até a última gota do nosso sangue dá-lhe San Thiago porque olhe que eu sou até um cara que não é dessas coisas mas juro que estou ficando com uma xenofobia de lascar e só de me lembrar do Puskás vou até tomar um tranquilizador senão eu dou uma bomba aqui nesta máquina de escrever que vai ser fogo e aí morro porque eu não aguento mais tanta agonia por favor ganhem logo e voltem para casa com a Taça erguida bem alto para a transubstanciação do nosso e do vosso júbilo o Rio de Janeiro a vossos pés e muito papel picado caindo das sacadas da avenida Rio Branco e da cabeça dos políticos é só o que eu lhes peço voltem porque senão a revolução em marcha não caminha ela fica também encantada com a vossa divina mestria e por favor poupem o coração deste e de setenta milhões de poetas cuja vida pulsa em vossos artelhos enquanto vos dirigis para a vitória final inelutável com a ajuda de Nossa Senhora da Guia nosso pai Xangô e Seu Mané Garrincha Olé!

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