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Although Vinicius had established his public figure through poetry and popular song, he was one of the greatest prose writers of his generation. As a matter of fact, a generation where the good prose of that time was crystallized through a chronic genre extremely characterized by the style of Rio de Janeiro city.
With a large number of newspapers that circulated in the city and with a team of writers which would vary from Rubem Braga to Carlinhos de Oliveira, from Carlos Drummond de Andrade to Clarice Lispector, from Fernando Sabino to Nelson Rodrigues, Vinicius sit among them as a chronicler who transmitted to the prose, the same reasons and the same lightness of style that he presented to the public in his poems.
MISTÉRIO A BORDO
A bordo do Claude Bernard, a caminho de Montevidéu, cansado de muitas emoções — casamento da primeira filha, despedida dos amigos, mais uma partida para longe do Brasil —, entro às sete da noite em minha cabina, deito-me e pego no sono.
Mas de repente qualquer coisa me desperta.
Olho o relógio. É uma da madrugada. Ouço a trepidação do navio e sinto o seu doce balanço, como o de um berço. Deitada, a mão sob o rosto, a Bem-Amada, da cama ao lado, olha-me como uma criança. A luz do banheiro filtra uma suave claridade, que seria boa para uma nova incursão no sono, não fosse a angústia que, como um fardo progressivo, começa a oprimir-me o peito. Então levanto-me, ponho uma camisa esporte e saio para o convés de bombordo.
A noite é alta, negra, mas há duas estrelas no céu que resistiram ao teor da treva; mas não por muito tempo, pois logo desaparecem, deixando-me totalmente só. Busco-as ainda na escuridão impenetrável, feita maior pelas luzes do navio. Mesmo o mar, a vista não vai muito longe nele. Pressinto-o, todavia, por ali tudo à volta, taciturno e longo, berçando aquele navio que, inconsciente da sua enorme fragilidade, passeia sobre ele como um feixe de luzes flutuantes.
O vento faz-se mais frio. Volto à cabina, enfio um suéter, pego um bloco de papel e vou sentar-me no grande salão. Sinto necessidade de escrever, o quê, não saberia dizer.
Vontade, no entanto, de ficar assim sentado, com caneta e papel, à espera de alguma
coisa.
Não disse alguém que o homem escreve para matar a morte? Talvez seja esse o sentimento que me coloca, a contragosto, nessa posição para mim meio ridícula, como um espírita em vias de psicografar mensagens do Além. Porque o Além está presente, disso não haja a menor dúvida. Provou-o agora mesmo um gato que, como um raio, atravessou o salão aos saltos e depois parou junto à porta para olhar-me, temeroso e eriçado, como se eu tivesse de súbito encarnado a Coisa que o perseguia antes.
“Você está louco...”, digo eu ao gato, e como para me tranquilizar. Mas a mão do invisível arrepia-me levemente os pelos do braço, e o meu coração bate mais forte alertado pelas sentinelas do medo. Olho em torno. O gato continua parado à porta, o rabo espetado, o dorso em arco, numa atitude de pavor e defesa. Mas a verdade é que não há nada. Aquele gato está querendo é ser contratado para o cinema.
Mas de repente ouço um horrível miado de terror e compreendo a razão do seu pânico, pois ele me foi em parte transmitido. Vinda do mar, uma enorme mariposa de cor cinza entrou direto sala adentro e partiu para cima do gato. Gatos sabidamente não têm medo de mariposas, mesmo quando se trate, como no caso, de uma dessas gordas e felpudas bruxas, que em seu instinto suicida atiram-se às cegas sobre tudo, desfazendo as asas em pó, que aliás dizem que cega. Mas que aquele gato morria de medo daquela mariposa, estava eu ali para prová-lo. Pois ele em absoluto ousava atacar o lepidóptero que esvoaçava à sua volta. Só quando ela pousou, noturna e esfingética, sobre a borda do pano da mesa onde eu estava, ousou ele partir, numa corrida elástica, mergulhando escada abaixo para o convés inferior.
Olhei a bruxa pousada a meu lado. Nunca tinha visto uma tão grande. Meus cabelos eriçaram-se ao longo da nuca. Devia estar cansada de sua longa viagem desde terra. Não, eu não teria medo dela. Cheguei-lhe, por trás, a mão em concha, e prendi-lhe fortemente o corpo pelas asas. Ela debateu-se um pouco entre meus dedos, mas, sentindo-se dominada, aquietou-se. Fui até a amurada e joguei-a longe, contra a noite. De suas asas, restou sobre a polpa de meus dedos um finíssimo pó cinzento. Ao entrar, num gesto cuja razão não sei a que atribuir, calquei sobre a pintura branca da parede a impressão digital do meu polegar direito.
Morte, misteriosa mariposa...