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Although Vinicius had established his public figure through poetry and popular song, he was one of the greatest prose writers of his generation. As a matter of fact, a generation where the good prose of that time was crystallized through a chronic genre extremely characterized by the style of Rio de Janeiro city.

 

With a large number of newspapers that circulated in the city and with a team of writers which would vary from Rubem Braga to Carlinhos de Oliveira, from Carlos Drummond de Andrade to Clarice Lispector, from Fernando Sabino to Nelson Rodrigues, Vinicius sit among them as a chronicler who transmitted to the prose, the same reasons and the same lightness of style that he presented to the public in his poems.

 


A alegre década de 20
Vinicius de Moraes
Poesia/crônica

A ALEGRE DÉCADA DE 20


Suponhamos, leitor, que você acorde um dia quatro décadas atrás, no período entre 1920 e 1930 que sucedeu à Primeira Grande Guerra e onde a disponibilidade e falta de critério eram gerais: os “Gay Twenties”, como ficou conhecida nos Estados Unidos a era do jazz, tão fabulosamente vivida e narrada pelo romancista Scott Fitzgerald.

Suponhamos que você tivesse uma amiga, ou melhor, uma “amiguinha” rica e quisesse fazer um programa com ela. Iria encontrá-la em casa metida num peignoir de cetim ciré, sandálias de pompom, piteira em riste a queimar um Abdoula, envolta em ondas de Mitsouko ou Tabac Blond, do perfumista Caron. Ela estaria, naturalmente, num divã coberto de almofadas, e na testa da jovem “melindrosa”, você notaria um “pega-rapaz”, ou antes, uma “belezinha”, feita com uns poucos fios de cabelo.

Você ficaria, leitor amigo, como é natural, entre surpreso e encantado, sobretudo quando notasse que, ao sorrir, a sua diva mordia a pontinha da língua num tique faceiro. E mais encantado ainda quando, ao pedir um uísque, visse a empregada voltar com um coquetel rose, delicada beberagem à tona da qual estaria boiando, qual leve batel, uma pétala de rosa...

Depois de tomar uns oitenta desses, você ouviria a sua amiguinha adverti-lo contra os perigos de uma “carraspana”. Mas qual! Estando habituado ao uísque falsificado da maioria das nossas boates e bares, você nem estaria sentindo o anunciado “pifão”. Pelo contrário. Animadíssimo, colocaria uma “chapa” no gramofone e tiraria sua amiguinha para dançar um ragtime. Em seguida, mirando ao espelho a sua elegância — calça estreita de flanela, paletó azul-marinho cintado, camisa listada, gravata-borboleta, sapato camouflage e chapéu de palhinha —, você, com uma graciosa pirueta de satisfação, convidaria sua amiguinha para uma saída:

— Vamos ao chá dançante do Palace Hotel?

E ela, com um muxoxo:

— Não, hoje eu preferia muito ir ver o Bataclan. Dizem que é “supimpa”.

Dado a coisas mais finas que o vaudeville ou o teatro de revista, você ainda tentaria convencer o seu “pedaço de mau caminho” a ir, em vez, à festa do Fluminense ouvir os Corsarinos e sua jazz-band: um negócio do “balacobaco”. Mas a menina não estava nada para coisas muito formais.

Em vista do quê, você, leitor, estirando-se numa otomana, à luz do abajur cor bleu (como bem caraterizava o fox-trot “Hindustão”), você pegaria com um gesto displicente os poemas de Hermes Fontes, ou o La garçonne de Victor Margueritte — e perdido entre bibelôs, esperaria que sua amiguinha se arrumasse “com uma rapidez de Fregoli”, conforme anunciara, referindo-se ao famoso transformista.

Mas essa arrumação tomaria tempo. Primeiro, desfazer os papelotes e desbastar a gaforinha — coisa que levava usualmente uma meia hora. Depois, enfiar as meias fumées, os sapatos mordorés, o chapéu canotier e passar no pescoço o renard argenté (uma magra raposinha a morder o próprio rabo). Só então a sua linda vigarista, depois de um último retoque ao espelho da entrada, iria à vida com você para diverti-lo um pouco à custa de uns magros “caraminguás”.

De volta ao tempo presente, leitor, você acharia que não era má a ideia de uma saída para ir ao 36 ver o Caymmi, ou ao Sacha’s para gozar do refrigerado. Aí você passaria a mão no telefone, discaria um número, e quando a voz feminina lhe respondesse do outro lado você diria assim:

— Como é, ó vigarista? Mete aí um bom pano em cima de ti e vamos enfrentar um escurinho musicado. Não, nada de botar banca pra cima de mim. Eu te manjo. É isso mesmo. Vamos lá tirar a ficha da moçada. A gaita anda curta para o scotch mas dá para molhar a garganta com uma “loura”. Menina, hoje estou enxugando o fino! O couvert já está conversado. Você sabe que o papai mora no assunto. Taca peito.*

 

* O autor se julga no dever de advertir, com relação à gíria empregada no último parágrafo, que esta crônica data de 1953.

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