Eu creio na alma...
Rio de Janeiro , 2004
Eu creio na alma Nau feita para as grandes travessias Que vaga em qualquer mar e habita em qualquer porto Eu creio na alma imensa A alma dos grandes mistérios ...
Eu nasci marcado pela paixão
Rio de Janeiro , 2004
Eu nasci marcado pela Paixão, Pedro, meu filho... E porque por ela nasci marcado, a ela me entreguei sem remissão desde menino, e o primeiro gesto que fiz foi buscar um seio de...
Feijoada à minha moda
Rio de Janeiro , 1962
Amiga Helena Sangirardi Conforme um dia eu prometi Onde, confesso que esqueci E embora - perdoe - tão tarde (Melhor do que nunca!) este poeta Segundo...
História passional, Hollywood, Califórnia
rio de Janeiro , 1954
Preliminarmente, telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas Depois te levarei a comer um shop-suey Se a tarde também for loura abriremos a capota Teus cabelos ao vento marcarão oitenta...
Invocação à mulher única
Rio de Janeiro , 1938
Tu, pássaro — mulher de leite! Tu que carregas as lívidas glândulas do amor acima do sexo infinito Tu, que perpetuas o desespero humano — alma desolada da noite sobre o...
Lamento ouvido não sei onde
Rio de Janeiro , 1938
Minha mãe, toma cuidado Não zanga assim com meu pai Um dia ele vai-se embora E não volta nunca mais. O mau filho à casa torna ...
Lápide de Sinhazinha Ferreira
Rio de Janeiro , 1946
A vida sossega Lírios em repouso Adormecestes cega Na visão do esposo. A paixão é pouso Que a treva não nega A morte...
Lopes Quintas
Rio de Janeiro , 2004
(A rua onde nasci) A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge E tem casas baixas que ficam me espiando de noite Quando a minha angústia passa...
Máscara mortuária de Graciliano Ramos
Rio de Janeiro , 1953
Feito só, sua máscara paterna, Sua máscara tosca, de acre-doce Feição, sua máscara austerizou-se Numa preclara decisão...
Mensagem à poesia
rio de Janeiro , 1954
Não posso Não é possível Digam-lhe que é totalmente impossível Agora não pode ser É impossível Não posso. Digam-lhe que...
Mensagem a Rubem Braga
Rio de Janeiro , 1954
Os doces montes cônicos de feno (Decassílabo solto num postal de Rubem Braga, da Itália.) A meu amigo Rubem Braga Digam que vou, que vamos bem: só não...
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra...
Rio de Janeiro , 2004
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra Dá-me o teu antigo paletó sujo de ventos e de chuvas Dá-me o imemorial chapéu com que cobrias a...
O amor dos homens
Paris , 1962
Na árvore em frente Eu terei mandado instalar um alto-falante com que os passarinhos Amplifiquem seus alegres cantos para o teu lânguido despertar. Acordarás...
O apelo
Rio de Janeiro , 1946
Que te vale, minha alma, essa paisagem fria Essa terra onde parecem repousar virgens distantes? Que te importa essa calma, essa tarde caindo sem vozes Esse ar onde as nuvens se...
O bergantim da aurora
Rio de Janeiro , 1935
Velho, conheces por acaso o bergantim da aurora Nunca o viste passar quando a saudade noturna te leva para o convés imóvel dos rochedos? Há muito tempo ele me lançou sobre...