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Lopes Quintas

Rio de Janeiro , 2004

(A rua onde nasci) 

A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge 
E tem casas baixas que ficam me espiando de noite 
Quando a minha angústia passa olhando o alto... 
A minha rua tem avenidas escuras e feias 
De onde saem papéis velhos correndo com medo do vento 
E gemidos de pessoas que estão eternamente à morte. 
A minha rua tem gatos que não fogem e cães que não ladram 
Na capela há sempre uma voz murmurando louvemos 
Sem medo das costas que a vaga penumbra apunhala. 
A minha rua tem um lampião apagado 
Em frente à casa onde a filha matou o pai... 
No escuro da entrada só brilha uma placa gritando quarenta! 
                                    É a rua da gata louca que mia buscando 
                                    os filhinhos nas portas das casas... 

É uma rua como tantas outras 
Com o mesmo ar feliz de dia e o mesmo desencontro de noite 
A rua onde eu nasci.