Soneto da mulher casual
Rio de Janeiro , 2004
Por não seres aquela que eu buscava Nem do meu ontem nada recordares, Por não haver, aquém e além dos mares, Alguém mais relva e seda, avena e...
Soneto da rosa
Rio de Janeiro , 1954
Mais um ano na estrada percorrida Vem, como o astro matinal, que a adora Molhar de puras lágrimas de aurora A morna rosa escura e apetecida. E da fragrante tepidez sonora No recesso, como...
Soneto da rosa tardia
Rio de Janeiro , 1957
Como uma jovem rosa, a minha amada... Morena, linda, esgalga, penumbrosa Parece a flor colhida, ainda orvalhada Justo no instante de tornar-se rosa. Ah, porque não a deixas intocada...
Soneto de aniversário
rio de Janeiro , 1954
Passem-se dias, horas, meses, anos Amadureçam as ilusões da vida Prossiga ela sempre dividida Entre compensações e desenganos. Faça-se a carne mais envilecida...
Soneto de carnaval
Oxford , 1939
Distante o meu amor, se me afigura O amor como um patético tormento Pensar nele é morrer de desventura Não pensar é matar meu pensamento. Seu...
Soneto de carta e mensagem
Rio de Janeiro , 1938
“Sim, depois de tanto tempo volto a ti Sinto-me exausta e sou mulher e te amo Dentro de mim há frutos, há aves, há tempestades E apenas em ti há espaço para...
Soneto de criação
Rio de Janeiro , 2004
Rio de Janeiro Deus te fez numa fôrma pequenina De uma argila bem doce e bem morena Deu-te uns olhos minúsculos de china Que parecem ter sempre um olhar de...
Soneto de despedida
Rio de Janeiro , 1940
Uma lua no céu apareceu Cheia e branca; foi quando, emocionada A mulher a meu lado estremeceu E se entregou sem que eu dissesse nada. Larguei-as pela jovem...
Soneto de devoção
Rio de Janeiro , 1938
Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia...
Soneto de fidelidade
são Paulo , 1946
De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento...
Soneto de Florença
Rio de Janeiro , 1957
Florença... que serenidade imensa Nos teus campos remotos, de onde surgem Em tons de terracota e de ferrugem Torres, cúpulas, claustros: renascença Das coisas que passaram...
Soneto de intimidade
Campo Belo , 1937
Nas tardes de fazenda há muito azul demais. Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora Mastigando um capim, o peito nu de fora No pijama irreal de há três anos atrás....
Soneto de Oxford
Rio de Janeiro , 1957
Oh, partir pela noite enluarada No puro anseio de chegar lá onde A minha doce e fugitiva amada Na madrugada, trêmula, se esconde... Oh, sentir palpitar em cada fronde O amor,...
Soneto de quarta-feira de cinzas
Rio de Janeiro , 1941
Por seres quem me foste, grave e pura Em tão doce surpresa conquistada Por seres uma branca criatura De uma brancura de manhã raiada Por seres de uma rara...
Soneto de um casamento
Rio de Janeiro , 2004
Na sala de luz lívida, sorriam Sombras imóveis; e outras lacrimosas Perseguiam lembranças dolorosas Na exaltação das flores que morriam. ...