Poema de aniversário
Rio de Janeiro , 1962
Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte... Eu quisera...
Poema para todas as mulheres
Rio de Janeiro , 1938
No teu branco seio eu choro. Minhas lágrimas descem pelo teu ventre E se embebedam do perfume do teu sexo. Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado Confuso,...
Poesia 1
Rio de Janeiro , 1979
Elegia desesperada Oxford Alguém que me falasse do mistério do Amor Na sombra - alguém! alguém que me mentisse Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto...
Provavelmente não virei montado...
Rio de Janeiro , 2004
Provavelmente não virei montado Em cavalo nenhum, como soía Nem de armadura, que essa, trago vestida Feita do aço da vida Sobre a cota de malha do...
Quem, quem depois...
Rio de Janeiro , 2004
Abrirá as portas sobre o imensurável? Quem compreenderá a aurora Em seu mais íntimo e elementar silêncio? Quem descerá as pontes...
Receita de mulher
Rio de Janeiro , 1959
As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute...
Rosário
Rio de Janeiro , 1946
E eu que era um menino puro Não fui perder minha infância No mangue daquela carne! Dizia que era morena Sabendo que era mulata Dizia que era...
Salta como um fauno puro ou um sapo...
Rio de Janeiro , 2004
Salta como um fauno puro ou um sapo miraculoso por entre os raios do sol frenético Distribuindo alegres e bem-soantes palavrões para protestantes e católicos Urina...
Solilóquio
Rio de Janeiro , 1938
Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros E amargue em meu coração a descrença. Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! — algum dia,...
Soneto da madrugada
Rio de Janeiro , 1946
Pensar que já vivi à sombra escura Desse ideal de dor, triste ideal Que acima das paixões do bem e do mal Colocava a paixão da criatura! ...
Soneto do gato morto
Rio de Janeiro , 1957
Um gato vivo é qualquer coisa linda Nada existe com mais serenidade Mesmo parado ele caminha ainda As selvas sinuosas da saudade De ter sido feroz. À sua vinda Altas correntes...
Soneto sentimental à cidade de São Paulo
Rio de Janeiro , 2004
Ó cidade tão lírica e tão fria! Mercenária, que importa - basta! - importa Que à noite, quando te repousas morta Lenta e cruel te envolve...
Tanguinho macabro
Rio de Janeiro , 2004
- Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! - Não me chamo Maricota Nem me vou arresfriar ...
Transfiguração da montanha
Rio de Janeiro , 2004
E uma vez Ele subiu com os apóstolos numa montanha alta E lá se transfigurou diante deles. Uma auréola de luz rodeava-lhe a cabeça Ele tinha nos olhos o...
Um dia, como estivesse parado...
Rio de Janeiro , 2004
Um dia, como estivesse parado à borda de uma montanha ao Sol poente Apascentando a sua poesia diante dos trigais e contemplando as cidades douradas Viu o Príncipe-Poeta a minha sombra...