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Um dia, como estivesse parado...

Rio de Janeiro , 2004

Um dia, como estivesse parado à borda de uma montanha ao Sol poente Apascentando a sua poesia diante dos trigais e contemplando as cidades douradas Viu o Príncipe-Poeta a minha sombra precipitada nos abismos ir escurecendo uma extensão de léguas e léguas de terra. 
Havia em torno a mim uma grande humildade, de rebanhos e de sopros de flautas E uma grande paz futura como se tudo não fosse senão a eterna espera de uma 
[eterna vinda se desdobrando 
Subitamente o Príncipe viu a sua sombra que obedecia ao seu corpo que obedecia 
[ao seu pensamento ali estava desde o começo dos tempos o espetáculo das eras. 

As águas não se repetem, ele pensava, mas elas voltam para os mesmos leitos desfeitos em chuva 
E refazem o mesmo caminho da terra para as fontes das fontes para os rios dos rios para o mar do mar para o sol 
Ora cantantes, límpidas, serenas, ora estagnadas, tempestuosas, negras, trágicas, segundo a sabedoria dos instantes do curso 
Até novamente subirem ao astro sedento onde viveram o seu paraíso efêmero para caírem novamente em gotas de chuva.