voltarPoesias

Salta como um fauno puro ou um sapo...

Rio de Janeiro , 2004

Salta como um fauno puro ou um sapo miraculoso por entre os raios do sol frenético 
Distribuindo alegres e bem-soantes palavrões para protestantes e católicos 
Urina sobre as escadarias dos templos porque ali os mendigos se sentam 
E cospe sobre todos os que se proclamaram miseráveis. 

Canta, canta demais! Nada há como o amor para matar a vida 
Amor que é bem o amor da inocência primeira. 
Canta! O coração da Donzela restado da carne ficará queimando eternamente a amiga morta 
Para o horror dos monges, dos cortesãos, dos caftens, das prostitutas e dos pederastas. 

Transforma-te por um segundo num mosquito gigantesco e passeia sobre as grandes cidades 
Espalhando o terror por toda a parte onde pousem as tuas impalpáveis antenas 
Lega aos cínicos o cinismo, aos covardes a covardia, aos avaros a avareza 
E injeta-os de pureza para que eles apodreçam como porcos mordidos por 
[serpentes. 

E com toda essa lama faz um poema puro - faz e deixa-o 
Como o velho de Sindbad ele há de saltar às custas dos que foram passando 

Há de estrangulá-los, vencê-los, aniquilá-los misteriosamente 
Como o branco fantasma da sua podridão e da sua mentira. 
Canta! Canta porque cantar é a missão do poeta 
E dança porque dançar é o destino da pureza 
Para os cemitérios e os lares faz o teu gesto obsceno 
Carne morta na carne viva, basta! falo eu que sou um.