O bom ladrão
Rio de Janeiro , 1935
São horas, inclina o teu doloroso rosto sobre a visão da velha paisagem quieta Passeia o teu mais fundo olhar sobre os brancos horizontes onde há imagens perdidas Afaga num...
O camelô do amor
Rio de Janeiro , 2004
Los Angeles O Amor tonifica o cabelo das mulheres Torna-o vivo e dá-lhe um brilho natural. Ondulações permanentes? só das do amor. Amai! Nada melhor...
O dia da criação
Rio de Janeiro , 1946
Macho e fêmea os criou. Bíblia: Gênese, 1, 27 I Hoje é sábado, amanhã é domingo A vida vem em ondas, como o...
O falso mendigo
Rio de Janeiro , 1938
Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda Quero fazer uma poesia. Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado E me trazer muito devagarinho....
O incriado
Rio de Janeiro , 1935
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera O...
O mágico
Rio de Janeiro , 1938
Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a...
O Morro do Castelo
Rio de Janeiro , 2004
(A lira que não escreveu Gonzaga) Numa qualquer madrugada De uma qualquer quarta-feira O homem de pouca fé Faz uma barba ligeira (Que coisa...
O nascimento do homem
Rio de Janeiro , 1935
I E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade Uma branca mulher de cujo sexo a luz...
O ônibus Greyhound atravessa o Novo México
Rio de Janeiro , 1962
Terra seca árvore seca E a bomba de gasolina Casa seca paiol seco E a bomba de gasolina Serpente seca na estrada E a bomba de gasolina Pássaro...
O outro
Rio de Janeiro , 1935
Às vezes, na hora trêmula em que os espaços desmancham-se em neblina E a gaze da noite se esgarça suspensa na bruma dormente Eu sinto sobre o meu ser uma presença...
O poeta
Rio de Janeiro , 1933
A vida do poeta tem um ritmo diferente É um contínuo de dor angustiante. O poeta é o destinado do sofrimento Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza E a sua...
O terceiro filho
Rio de Janeiro , 1933
Em busca dos irmãos que tinham ido Eu parti com pouco ouro e muita bênção Sob o olhar dos pais aflitos. Eu encontrei os meus irmãos Que a ira do Senhor...
P(B)A(O)I
Rio de Janeiro , 2004
Rio de Janeiro A Carlos Drummond de Andrade, que com seu só título Boitempo me deu a chave deste poema Pai Modorrando de tarde na cadeira De...
Paisagem
Rio de Janeiro , 1946
Subi a alta colina Para encontrar a tarde Entre os rios cativos A sombra sepultava o silêncio. Assim entrei no pensamento Da morte minha amiga Ao...
Perdoai-me, meus amigos,...
Rio de Janeiro , 2004
Perdoai-me, meus amigos, a minha súbita vontade de chorar em vosso mágico convívio Eu tenho vontade de chorar sobre a minha súbita inocência. Tenho também...