História de alma
Rio de Janeiro , 2004
Meia-noite. Frio. Frio em tudo E mais frio que em tudo, frio na Alma A Noite grande e aberta... a Alma grande e aberta... Infinitamente frias... No alto a noite...
História passional, Hollywood, Califórnia
rio de Janeiro , 1954
Preliminarmente, telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas Depois te levarei a comer um shop-suey Se a tarde também for loura abriremos a capota Teus cabelos ao vento marcarão oitenta...
Idade média
Rio de Janeiro , 1938
Faze com que tua boca seja para mim água e não vinho E faze com que para mim teus seios peras e não cidras... Algum dia no teu ventre que eu vejo se estender como uma branca terra...
Ilha do Governador
Rio de Janeiro , 1935
Esse ruído dentro do mar invisível são barcos passando Esse ei-ou que ficou nos meus ouvidos são os pescadores esquecidos Eles vêm remando sob o peso de grandes...
Inatingível
Rio de Janeiro , 1933
O que sou eu, gritei um dia para o infinito E o meu grito subiu, subiu sempre Até se diluir na distância. Um pássaro no alto planou voo E mergulhou no espaço. Eu segui...
Introspecção
Rio de Janeiro , 1933
Nuvens lentas passavam Quando eu olhei o céu. Eu senti na minha alma a dor do céu Que nunca poderá ser sempre calmo. Quando eu olhei a árvore perdida Não vi...
Invocação à mulher única
Rio de Janeiro , 1938
Tu, pássaro — mulher de leite! Tu que carregas as lívidas glândulas do amor acima do sexo infinito Tu, que perpetuas o desespero humano — alma desolada da noite sobre o...
Itaoca
Rio de Janeiro , 2004
Serenamente pousada Sobre a montanha elevada Como um ninho de poesia, A casa branca e pequena É como a mansão serena Da luz, da paz, da alegria! ...
Jogo de empurra
Rio de Janeiro , 2004
Os escravos de Gê Gostavam de jogar Ponto, banca Quem jogou em 30, dá Parceiro com parceiro Pif, pif, pif, paf! Os escravos de...
José
Rio de Janeiro , 2004
Se coubessem mil coisas num só dia E se ele não fosse um só, mas fosse mil Pelo Faux monnaieurs!!! Não haveria Quem fizesse mais coisas no...
Judeu errante
Rio de Janeiro , 1933
Hei de seguir eternamente a estrada Que há tanto tempo venho já seguindo Sem me importar com a noite que vem vindo Como uma pavorosa alma penada. Sem fé na...
Lamento ouvido não sei onde
Rio de Janeiro , 1938
Minha mãe, toma cuidado Não zanga assim com meu pai Um dia ele vai-se embora E não volta nunca mais. O mau filho à casa torna ...
Lapa de Bandeira
Rio de Janeiro , 1962
(Quinta rima) A Manuel Bandeira Existia, e ainda existe Um certo beco na Lapa Onde assistia, não assiste Um poeta no fundo triste No alto de um...
Lápide de Sinhazinha Ferreira
Rio de Janeiro , 1946
A vida sossega Lírios em repouso Adormecestes cega Na visão do esposo. A paixão é pouso Que a treva não nega A morte...
Lembrete
Rio de Janeiro , 2004
A nunca esquecer: as manhãs Da infância, os pães alemães A sala escura Na casa da rua...