Redondilhas a Laranjeiras
Rio de Janeiro , 2004
Laranjeiras pequenina Carregadinha de flor Eu também estou dando pássaros Eu também estou dando flores Eu também estou dando frutos Eu...
Retrato de Maria Lúcia
Montevidéu , 1962
Tu vens de longe; a pedra Suavizou seu tempo Para entalhar-te o rosto Ensimesmado e lento Teu rosto como um templo Voltado para o oriente Remoto como o...
Romanza
Rio de Janeiro , 1933
Branca mulher de olhos claros De olhar branco e luminoso Que tinhas luz nas pupilas E luz nos cabelos louros Onde levou-te o destino Que te afastou para longe Da minha vista sem vida Da...
Salta como um fauno puro ou um sapo...
Rio de Janeiro , 2004
Salta como um fauno puro ou um sapo miraculoso por entre os raios do sol frenético Distribuindo alegres e bem-soantes palavrões para protestantes e católicos Urina...
Solilóquio
Rio de Janeiro , 1938
Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros E amargue em meu coração a descrença. Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! — algum dia,...
Sonata do amor perdido
Rio de Janeiro , 1938
Lamento nº 1 Onde estão os teus olhos — onde estão? — Oh — milagre de amor que escorres dos meus olhos! Na água iluminada dos rios da lua eu os vi...
Soneto a Octávio de Faria
Oxford , 1939
Não te vira cantar sem voz, chorar Sem lágrimas, e lágrimas e estrelas Desencantar, e mudo recolhê-las Para lançá-las fulgurando ao...
Soneto a Pablo Neruda
Rio de Janeiro , 1957
Quantos caminhos não fizemos juntos Neruda, meu irmão, meu companheiro... Mas este encontro súbito, entre muitos Não foi ele o mais belo e verdadeiro? Canto maior,...
Soneto a quatro mãos
Rio de Janeiro , 2004
(com Paulo Mendes Campos) Tudo de amor que existe em mim foi dado. Tudo que fala em mim de amor foi dito. Do nada em mim o amor fez o infinito Que por muito tornou-me...
Soneto ao inverno
Londres , 1939
Inverno, doce inverno das manhãs Translúcidas, tardias e distantes Propício ao sentimento das irmãs E ao mistério da carne das amantes: ...
Soneto da madrugada
Rio de Janeiro , 1946
Pensar que já vivi à sombra escura Desse ideal de dor, triste ideal Que acima das paixões do bem e do mal Colocava a paixão da criatura! ...
Soneto de carnaval
Oxford , 1939
Distante o meu amor, se me afigura O amor como um patético tormento Pensar nele é morrer de desventura Não pensar é matar meu pensamento. Seu...
Soneto de fidelidade
são Paulo , 1946
De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento...
Soneto de Oxford
Rio de Janeiro , 1957
Oh, partir pela noite enluarada No puro anseio de chegar lá onde A minha doce e fugitiva amada Na madrugada, trêmula, se esconde... Oh, sentir palpitar em cada fronde O amor,...
Soneto do amor como um rio
Montevidéu , 1962
Este infinito amor de um ano faz Que é maior do que o tempo e do que tudo Este amor que é real, e que, contudo Eu já não cria que existisse mais. ...