Místico
Rio de Janeiro , 1933
O ar está cheio de murmúrios misteriosos E na névoa clara das coisas há um vago sentido de espiritualização... Tudo está cheio de ruídos...
Mormaço
Rio de Janeiro , 1933
No silêncio morno das coisas do meio-dia Eu me esvaio no aniquilamento dos agudíssimos do violino Que a menina pálida estuda há anos sem compreender. Eu sinto o letargo...
Morro de sede! a minha ânsia...
Rio de Janeiro , 2004
Morro de sede! a minha ânsia Não pode mais Dêem-me água fria, dêem-me leite Dêem-me morangos verdes, verdes Dêem-me a boquinha...
Na esperança de teus olhos
Rio de Janeiro , 2004
Rio de Janeiro Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos Penetrando lentamente as solidões da minha espera E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos...
Namorados no mirante *
Rio de Janeiro , 1962
Rio de Janeiro Eles eram mais antigos que o silêncio A perscrutar-se intimamente os sonhos Tal como duas súbitas estátuas Em que apenas o olhar restasse...
Não comerei da alface a verde pétala
Los Angeles , 1962
Não comerei da alface a verde pétala Nem da cenoura as hóstias desbotadas Deixarei as pastagens às manadas E a quem mais aprouver fazer dieta. ...
Natureza humana
Rio de Janeiro , 2004
Cheguei. Sinto de novo a natureza Longe do pandemônio da cidade Aqui tudo tem mais felicidade Tudo é cheio de santa singeleza Vagueio pela múrmura...
Nessa sala perdida na Inglaterra...
Rio de Janeiro , 2004
Oxford Nessa sala perdida na Inglaterra Vivo entre coisas mortas, vivo e mudo Poeta louco e triste, eu te saúdo No teu quarto de século na terra ...
No momento que a morte me viu...
Rio de Janeiro , 2004
No momento que a morte me viu E a cidade enorme calou um segundo para assistir ao último transe da minha agonia Alguém me deu a mão na rua E eu me voltando vi...
Notícia d'O Século
Rio de Janeiro , 1946
Nas terras do Geraz Que compreendem três populosas freguesias O povo ainda se mostra sucumbido Com o bárbaro crime do lavrador Manuel da Névoa E...
O amor dos homens
Paris , 1962
Na árvore em frente Eu terei mandado instalar um alto-falante com que os passarinhos Amplifiquem seus alegres cantos para o teu lânguido despertar. Acordarás...
O anjo das pernas tortas
Rio de Janeiro , 1962
A Flávio Porto A um passe de Didi, Garrincha avança Colado o couro aos pés, o olhar atento Dribla um, dribla dois, depois descansa Como a medir o...
O assassino
rio de Janeiro , 1954
Meninas de colégio Apenas acordadas Desuniformizadas Em vossos uniformes Anjos longiformes De faces rosadas E pernas enormes Quem vos acompanha? Quem vos acompanha Colegiais...
O bergantim da aurora
Rio de Janeiro , 1935
Velho, conheces por acaso o bergantim da aurora Nunca o viste passar quando a saudade noturna te leva para o convés imóvel dos rochedos? Há muito tempo ele me lançou sobre...
O bom ladrão
Rio de Janeiro , 1935
São horas, inclina o teu doloroso rosto sobre a visão da velha paisagem quieta Passeia o teu mais fundo olhar sobre os brancos horizontes onde há imagens perdidas Afaga num...