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Minha cabeça pesada balança,...

Rio de Janeiro , 2004

Minha cabeça pesada balança, rola, e sai vagando pela casa como um astro penado 
E a sinto examinando os velhos quadros familiares com um olhar que eu desconheço na sua fisionomia 
Aqui, longe de tudo, meus dedos palpam o poema imenso das vozes da noite - eu o recolherei, talvez na madrugada do último dia 
Agora é o cansaço sem remédio dos tempos sobre-humanos, das caravanas miraculosas, das religiões perdidas… 
O ar está passando sobre meu tronco decepado e em breve passará sobre o meu pescoço como um plano de cristal iluminado 
E se repousará da longa viagem dos espaços e ressoará para mim as harmonias dos coros angelicais 
É voltado o tempo da imobilidade - nenhum movimento será feito para que nenhum acento seja perdido 
As pastoras e os camponeses, os cafres e os negros, as bailarinas e os gênios deixarão a alma da dança estendida sobre a lucidez do grande campo 
E algum dia, quando eu despertar, tudo será belo e nada haverá de mais profundo na minha poesia que a minha poesia ela mesma em sua nudez maravilhosa.