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Ele é o mundo extremo de beleza...

Rio de Janeiro , 2004

Ele é o mundo extremo de beleza e de todas as idéias passadas e futuras 
É a sabedoria de todas as coisas na sua essência de música e de poesia 
É a vida em desencantamento de todas as imagens do tempo na carne 
Ele diz à mata tumefacta: Eu sou tu mesmo, larva do amor infinito 
E se morrer é para que eu viva a tua morte e a minha vida! 
E com mãos de piedade tece teias gigantescas sobre os cosmos debruçados 
Onde tombam palpitantes corações cheios de sofrimento e de angústia. 

Ele possui - possui como nunca possuiu o espírito no sangue dos homens 
Sabe - sabe como nunca soube a alma no seio da tragédia 
E perdura - como nunca perdurou a morte no fundo do ser inocente 
Ele diz à noite: Tu existes, mas que seria de ti se eu não te visse 
Que realidade és senão a claridade dos meus olhos que tudo criam? 
E a noite que não o vê desce os mais escuros véus sobre o cadáver dos rios 
Com negras lágrimas ardentes de impotência e miséria. 

Quando o peregrino encontra na noite negra a branca imagem do seu extâse 
Misteriosamente à sua volta a natureza se putrefaz    
Seus olhos que penetravam mornos os cânticos estelares de Aldebarã 
Vêem descer em fios de luz planetas como aranhas rígidas 
Que pousam sobre a epiderme corrompida das matas e das águas 
E na vida que começa em origem e entendimento no seu íntimo 
A paisagem da morte dolorosa. 
E sobre cada extensão de folhas e de frutos 
Os sonhos fogem como crisálidas translúcidas para os espaços frios da alma 
E se respondem em ecos de lembrança e de intuições serenas 
E como a águia, o peregrino-deus devora as entranhas da terra 
E com ela alimenta as iluminações de um céu não mais inexistente 
E com ela fecunda as fruições de uma seiva decomposta em lava 
Que se arrasta para as escarpas mortuárias de cruéis abismos vividos.