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Jam session

Última Hora , 3 de Dezembro de1951

Como esse negócio de "Como se comportar no cinema" já deu o que tinha de dar - a não ser que os leitores me queiram apresentar boas sugestões que eu, honestamente, prometo desenvolver em crônicas futuras - vou me permitir hoje uma pequena digressão que tem a ver com jazz. Ela me ocorre a propósito de uma jam session (reunião de músicos de jaz para tocarem juntos e à vontade) a que fui assistir sábado à tarde, no Avenida Danças, com alguns jazz men brasileiros e alguns membros da orquestra de Tommy Dorsey, entre os quais sobreleva o saxofonista Sam Donabue - um bom instrumentalista branco, o que não quer dizer grande coisa em jazz. Mas Donahue, no seu gênero, é dos melhores - e se a atual orquestra de Tommy Dorsey vale alguma coisa, é pela sua presença. 

Muito bem, a tal jam session estava positivamente de amargar, mas ela me trouxe uma outra que quero lembrar como mera curiosidade para os fãs de jazz e de cinema - de vez que tinha lugar depois das filmagens diárias do filme A Song is Born, com Danny Kaye - e cujo título em português desconheço. Grandes homens de jazz participavam da filmagem. Grandes, quer dizer... De grande mesmo só havia um - o general Louis Armstrong. O melhor que vinha depois ficava, com relação a Louis, à mesma distância de uma supernova do nosso globo terrestre. Esse melhor era Benny Goodman, Lionel Hampton, o próprio Tommy Dorsey, Mel Powell, Charles Barnett e o Golden Gate Quartet - tudo gente proficiente, alguns já havendo tocado bom jazz, como Goodman e Hampton, mas tudo hoje em dia meio entregue às baratas. 

Mas era gostoso, o pessoal ensaiava e filmava o dia inteiro e à tarde, já cheios daquela história, se reuniam e tocavam como queriam. Havia sempre alguma figura importante em música popular que também vinha peruar a chacrinha, como Sarah Vaughan, e vários músicos brasileiros amigos meus que participavam da filmagem - José Carioca, Nestor Amaral, Russo do Pandeiro, Laurinda de Almeida, entre outros. A gente ficava por ali batendo um papinho com um e outro - e era gostoso ouvir as vozes, provindo de algum cantinho do set o som divino do trumpete de Louis ensaiando a pauta do filme. 

Tommy Dorsey e Benny Goodman andavam no melhor dos humores um com o outro. Ao que parece, Goodman não dava muita bola para os horários de filmagem, e atrasava o início dos ensaios. Um dia - e foi pena eu, como fã de jazz, não estar presente - chegou ele ao que parece meio alto e atrasadíssimo, e Tommy Dorsey exprobrou-lhe o procedimento. Desavieram-se e Benny levou um murro que o prostrou no chão com um certo estrépito - pois Benny é um homenzarrão. A turma do deixa estar entrou e a briga acabou assim. Não sei se fizeram as pazes - é bem provável, pois são ambos veteranos, velhos amigos não brigam para sempre só por causa de um soco na cara.
 
A história fica aqui para os colecionadores. Os fãs de cinema que me perdoem o impedimento.