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VINICIUS: POESIA E CANÇÃO (AO VIVO) VOL. 1
Mercury, 1966
Direção e produção artística: Roberto Quartin e Wadi Gebara
Gravado ao vivo no Teatro Municipal de São Paulo em dezembro de 1965.
Gravado ao vivo no Teatro Municipal de São Paulo em dezembro de 1965.
Faixas letra/música
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1 - Samba da bênção (Poesia e Canção Volume 1)
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2 - Saudade de amar
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3 - Arrastão
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4 - Berimbau (Poesia e Canção 1)
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5 - Marcha de quarta-feira de cinzas (Poesia e Canção 1)
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6 - Lamento no Morro (Poesia e Canção 1)
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7 - Jesus, alegria dos homens / Rancho das flores
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8 - Poética I e Poética II (Poesia e Canção I)
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9 - Tempo Feliz (Poesia e Canção I)
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10 - Soneto de separação (Poesia e Canção I)
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11 - Canção do amanhecer (Poesia e Canção I)
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12 - A brusca poesia da mulher (Poesia e Canção I)
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13 - Texto sobre pobre menina rica
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14 - Primavera (Poesia e Canção I)
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15 - Canto de Ossanha
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Samba da bênção
Vinicius de Moraes, Baden Powell
Cantado
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Falado
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Cantado
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Falado
Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!
A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia
Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha
Tu que choraste na flauta
Todas as minhas mágoas de amor
A bênção, Cartola, a benção, Sinhô
A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres
A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pinheiro
A bênção, meu bom Cyro Monteiro
Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary
A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum
A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido
Que já viajaste tantas canções comigo
E ainda há tantas por viajar
A bênção, Carlinhos Lyra
Parceiro cem por cento
Você que une a ação ao sentimento
E ao pensamento
Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba
A bênção, a bênção, Baden Powell
Amigo novo, parceiro novo
Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus
Cantado
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Tonga Editora Musical LTDA -
Saudade de amar
Vinicius de Moraes, Francis Hime
Deixa eu te dizer, amor
Que não deves partir
Partir nunca mais
Pois o tempo sem amor
É uma dura ilusão
E não volta mais
Se tu pudesses compreender
A solidão que é
Te buscar por aí
Andando devagar
A vagar por aí
Chorando a tua ausência
Vence a tua solidão
Abre os braços e vem
Meus dias são teus
É tão triste se perder
Tanto tempo de amor
Sem hora de adeus
Oh, volta
Que nos braços meus
Não haverá adeus
Nem saudade de amar
E os dois, sorrindo a soluçar
Partiremos depois
Tonga Editora Musical LTDA -
Arrastão
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Ê! tem jangada no mar
Ê iê, iêi!
Hoje tem arrastão
Ê! todo mundo pescar
Chega de sombra, João
J’ouviu
Olha o arrastão entrando no mar sem fim
É, meu irmão, me traz Iemanjá pra mim
Minha Santa Bárbara, me abençoai
Quero me casar com Janaína
Ê... puxa bem devagar
Ê, iê, iêi, já vem vindo o arrastão
Ê, é a rainha do mar
Vem, vem na rede, João
Pra mim
Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim
Nunca jamais se viu tanto peixe assim
Irmãos Vitale S/A -
Berimbau
Vinicius de Moraes, Baden Powell
Quem é homem de bem, não trai
O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai, não vai
E assim como não vai, não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem
Capoeira que é bom, não cai
E se um dia ele cai, cai bem!
Capoeira me mandou
Dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza, camará
Tonga Editora Musical LTDA -
Marcha de quarta-feira de cinzas
Vinicius de Moraes, Carlos Lyra
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
Editora Musical Arapuã -
Lamento no morro
Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim
Não posso esquecer
O teu olhar
Longe dos olhos meus
Ai, o meu viver
É de esperar
Pra te dizer adeus
Mulher amada
Destino meu
É madrugada
Sereno dos meus olhos já correu
Tonga Editora Musical LTDA
Jobim Music -
Jesus, alegria dos homens / Rancho das flores
Vinicius de Moraes, Bach, Baden Powell
Entre as prendas com que a natureza
Alegrou este mundo onde há tanta tristeza
A beleza das flores realça em primeiro lugar
É um milagre do aroma florido
Mais lindo que todas as graças do céu
E até mesmo do mar
Olhem bem para a rosa
Não há mais formosa
É flor dos amantes
É rosa-mulher
Que em perfume e em nobreza
Vem antes do cravo
E do lírio e da Hortência
E da dália e do bom crisântemo
E até mesmo do puro e gentil malmequer
E reparem no cravo o escravo da rosa
Que é flor mais cheirosa
De enfeite sutil
E no lírio que causa o delírio da rosa
O martírio da alma da rosa
Que é a flor mais vaidosa e mais prosa
Entre as flores do nosso Brasil
Abram alas pra dália garbosa
Da cor mais vistosa
Do grande jardim da existência das flores
Tão cheias de cores gentis
E também para a Hortência inocente
A flor mais contente
No azul do seu corpo macio e feliz
Satisfeita da vida
Vem a margarida
Que é a flor preferida dos que tem paixão
E agora é a vez da papoula vermelha
A que dá tanto mel pras abelhas
E alegra este mundo tão triste
No amor que é o meu coração E agora que temos o bom crisântemo
Seu nome cantemos em verso e em prosa
Porém que não tem a beleza da rosa
Que uma rosa não é só uma flor
Uma rosa é uma rosa, é uma rosa
É a mulher rescendendo de amor -
Poética I e Poética II
Vinicius de Moraes
Poética I
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
Poética II
Com as lágrimas do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia.
E na perspectiva
Da vida futura
Ergui em carne viva
Sua arquitetura.
Não sei bem se é casa
Se é torre ou se é templo:
(Um templo sem Deus.)
Mas é grande e clara
Pertence ao seu tempo
- Entrai, irmãos meus! -
Tempo Feliz
Vinicius de Moraes, Baden Powell
Feliz o tempo que passou, passou
Tempo tão cheio de recordações
Tantas canções ele deixou, deixou
Trazendo paz a tantos corações
Que sons mais lindos tinha pelo ar
Que alegria de viver
Ah, meu amor, que tristeza me dá
Vendo o dia querendo amanhecer
E ninguém cantar
Mas, meu bem
Deixa estar, tempo vai
Tempo vem
E quando um dia esse tempo voltar
Eu nem quero pensar no que vai ser
Até o sol raiar
Tonga Editora Musical LTDA -
Soneto de separação
Vinicius de Moraes, Antonio Carlos Jobim
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente -
Canção do amanhecer
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Ouve
Fecha os olhos, meu amor
É noite ainda
Que silêncio
E nós dois
Na tristeza de depois
A contemplar
O grande céu do adeus
Ah, não existe paz
Quando o adeus existe
E é tão triste
O nosso amor
Oh, vem comigo
Em silêncio
Vem olhar
Esta noite amanhecer
Iluminar
Aos nossos passos tão sozinhos
Todos os caminhos
Todos os carinhos
Vem raiando a madrugada
Música no céu
Irmãos Vitale S/A -
A brusca poesia da mulher
Vinicius de Moraes
Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido herói sem mácula Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a bilirrubina Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco quilos Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as confidências E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia. Eis que se anuncia de modo sumamente grave A vinda da mulher amada, de cuja fragrância já me chega o rastro. É ela uma menina, parece de plumas E seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos ventos Empós meu canto. É ela uma menina. Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes Do meu amor em solidão. Sim, eis que os arautos Da descrença começam a encapuçar-se em negros mantos Para cantar seus réquiens e os falsos profetas A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras. Mas nada a detém; ela avança, rigorosa Em rodopios nítidos Criando vácuos onde morrem as aves. Seu corpo, pouco a pouco Abre-se em pétalas... Ei-la que vem vindo Como uma escura rosa voltejante Surgida de um jardim imenso em trevas. Ela vem vindo... Desnudai-me, aversos! Lavai-me, chuvas! Enxugai-me, ventos! Alvoroçai-me, auroras nascituras! Eis que chega de longe, como a estrela De longe, como o tempo A minha amada última! -
Texto sobre pobre menina rica
Otto Lara Resende
Fala de Susana de Moraes -
Primavera
Vinicius de Moraes, Carlos Lyra
O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade
É que eu gosto tanto dela
Que é capaz dela gostar de mim
E acontece que eu estou mais longe dela
Que da estrela a reluzir na tarde
Estrela, eu lhe diria
Desce à terra, o amor existe
E a poesia só espera ver
Nascer a primavera
Para não morrer
Não há amor sozinho
É juntinho que ele fica bom
Eu queria dar-lhe todo o meu carinho
Eu queria ter felicidade
É que o meu amor é tanto
Um encanto que não tem mais fim
E no entanto ele nem sabe que isso existe
É tão triste se sentir saudade
Amor, eu lhe direi
Amor que eu tanto procurei
Ah, quem me dera eu pudesse ser
A tua primavera
E depois morrer
Tonga Editora Musical LTDA
MCK Produções -