Prosa dispersa


Pixinguinha e seus sete ou oito batutas

PIXINGUINHA E SEUS SETE OU OITO BATUTAS

 

Em seu penúltimo número, a excelente revista Manchete estampou o (e passou-me um) carão, em sua seção de rádio, da responsabilidade de Clemente Neto, porque eu, numa crônica, falei no êxito outrora alcançado na Europa pelos Sete Batutas, que são na verdade oito. Fui olhar minha crônica e o negócio é mesmo batata. Não sei a que atribuir semelhante burrice, porque estou ultrafarto de saber que os Batutas são oito. Suponho que talvez pensando em Pixinguinha no momento de escrever a nota, eu o tenha subtraído inconscientemente do grupo, onde ele era, fora de qualquer dúvida, o Batuta nº 1. A propósito, vale lembrar o primeiro conjunto popular organizado entre nós, que abafou durante alguns anos no Rio e em São Paulo e mais tarde em Paris. 

Aí por volta de 1915-16 Pixinguinha e mais uns outros elementos reuniam, todos os carnavais, um conjunto conhecido como O grupo dos Caxangás. Pixinga, entrementes, tocava flauta no velho Cine Palais, por ali onde fica hoje o Fasanello; e foi o próprio gerente do cinema quem primeiro bolou a ideia de manter um conjunto popular na sala de espera da antiga casa de espetáculos, cujo gerente, um sujeito chamado Franklin, batizou o grupo Os Batutas.

O sucesso que tiveram foi além de qualquer expectativa, quando antes das exibições, entravam, muito bem ensaiados, com os seus choros, tanguinhos e emboladas, e os espectadores deliravam. Não se falava em outra coisa no Rio. Ruy Barbosa chegava em sua caleça tocada a dois burros para ouvir Pixinguinha liquidar o assunto, e Ernesto Nazareth era outro que vinha frequentemente “ouvir” os oito Batutas. Tocava-se o próprio Nazareth, Chiquinha Gonzaga e sobretudo as composições do pessoal do conjunto que, sob a direção de Pixinguinha, era seu irmão, o famoso China (violão e canto), Nelson Alves (cavaquinho), Raul Palmieri (violão), Zezé Alves (bandolim) e Ganzá, Luís de Oliveira (bandola e reco-reco), instrumento esse pela primeira vez introduzido em conjunto; Jocó Palmieri (pandeiro), e finalmente o grande Ernesto dos Santos, o Donga afamado, que trabalham também no violão. Aqui fica, pois, a Manchete, Clemente Neto e sobretudo aos leitores a minha Amende honorable.


Revista Flan, 13 de setembro de 1953

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