O incriado
Rio de Janeiro , 1935
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera O...
O olhar para trás
Rio de Janeiro , 1935
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha...
O outro
Rio de Janeiro , 1935
Às vezes, na hora trêmula em que os espaços desmancham-se em neblina E a gaze da noite se esgarça suspensa na bruma dormente Eu sinto sobre o meu ser uma presença...
O sacrifício do vinho
Rio de Janeiro , 2004
Paris Contra o crepúsculo O vinho assoma, exulta, sobreleva Muda o cristal da tarde em rubra pompa Ganha som, ganha sangue, ganha seios Contra o crepúsculo...
Os malditos
Rio de Janeiro , 1935
(A aparição do poeta) Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois, três, talvez, quatro; cinco, talvez nada Talvez a multiplicação de cinco em...
Pescador
Rio de Janeiro , 1946
Pescador, onde vais pescar esta noitada: Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão? Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas ...
Poema para todas as mulheres
Rio de Janeiro , 1938
No teu branco seio eu choro. Minhas lágrimas descem pelo teu ventre E se embebedam do perfume do teu sexo. Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado Confuso,...
Quietação
Rio de Janeiro , 1933
No espaço claro e longo O silêncio é como uma penetração de olhares calmos... Eu sinto tudo pousado dentro da noite E chega até mim um lamento...
Sacrifício da Aurora
rio de Janeiro , 1954
Um dia a aurora chegou-se Ao meu quarto de marfim E com seu riso mais doce Deitou-se junto de mim Beijei-lhe a boca orvalhada E a carne tímida e exangue A carne não tinha sangue...
Sombra e luz
Rio de Janeiro , 1946
I Dança Deus! Sacudindo o mundo Desfigurando estrelas Afogando o mundo Na cinza dos céus Sapateia, Deus Negro na noite Semeando...
Sonata do amor perdido
Rio de Janeiro , 1938
Lamento nº 1 Onde estão os teus olhos — onde estão? — Oh — milagre de amor que escorres dos meus olhos! Na água iluminada dos rios da lua eu os vi...
Tanguinho macabro
Rio de Janeiro , 2004
- Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! - Não me chamo Maricota Nem me vou arresfriar ...
Ternura
Rio de Janeiro , 1938
Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca...
Variações sobre o tema da essência
Rio de Janeiro , 1935
(Três movimentos em busca da música) C'est aussi simple qu'une phrase musicale. Rimbaud I Foi no instante em que o luar desceu da face do...
Velha história
Rio de Janeiro , 1933
Depois de atravessar muitos caminhos Um homem chegou a uma estrada clara e extensa Cheia de calma e luz. O homem caminhou pela estrada afora Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz...
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