Soneto sentimental à cidade de São Paulo
Rio de Janeiro , 2004
Ó cidade tão lírica e tão fria! Mercenária, que importa - basta! - importa Que à noite, quando te repousas morta Lenta e cruel te envolve...
Soneto simples
Rio de Janeiro , 1938
Chegara enfim o mesmo que partira: a porta aberta e o coração voando ao encontro dos olhos e das mãos. Velhos pássaros, velhas criaturas, almas cinzentas plácidas...
Sonoridade
Rio de Janeiro , 1933
Meus ouvidos pousam na noite dormente como aves calmas Há iluminações no céu se desfazendo... O grilo é um coração pulsando no sono do espaço...
Sursum
Rio de Janeiro , 1935
Eu avanço no espaço as mãos crispadas, essas mãos juntas — lembras-te? — que o destino das coisas separou E sinto vir se desenrolando no ar o grande manto...
Suspensão
Rio de Janeiro , 1933
Fora de mim, fora de nós, no espaço, no vago A música dolente de uma valsa Em mim, profundamente em mim A música dolente do teu corpo E em tudo, vivendo o momento de...
Tanguinho macabro
Rio de Janeiro , 2004
- Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! - Não me chamo Maricota Nem me vou arresfriar ...
Tarde
Rio de Janeiro , 1933
Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas Meu espírito te sentiu. Ele te sentiu imensamente triste Imensamente sem Deus Na tragédia da carne desfeita. Ele te...
Tatiografia
Rio de Janeiro , 2004
Em Tati tem Taiti Ilha do amor e do adeus Tem avatá, Havaí! Taubaté, Aloha He... Tem medicina com mascate Pão de açúcar...
Ternura
Rio de Janeiro , 1938
Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca...
Teu nome
Montevidéu , 1962
Teu nome, Maria Lúcia Tem qualquer coisa que afaga Como uma lua macia Brilhando à flor de uma vaga. Parece um mar que marulha De manso sobre uma...
Todas as namoradas que eu já tive...
Rio de Janeiro , 2004
Todas as namoradas que eu já tive Estão noivas Uma só dentre todas não está noiva Casou-se. Nenhuma se lembra mais de mim As que...
Transfiguração da montanha
Rio de Janeiro , 2004
E uma vez Ele subiu com os apóstolos numa montanha alta E lá se transfigurou diante deles. Uma auréola de luz rodeava-lhe a cabeça Ele tinha nos olhos o...
Trecho
Rio de Janeiro , 1946
Quem foi, perguntou o Celo Que me desobedeceu? Quem foi que entrou no meu reino E em meu ouro remexeu? Quem foi que pulou meu muro E minhas rosas colheu? ...
Três respostas em face de Deus
Rio de Janeiro , 1935
Familles, je vous hais! foyers clos; portes refermées; possessions jalouses du bonheur. A. Gide C'est l'ami ni ardent ni faible. L'ami. ...
Três retratos
Rio de Janeiro , 1938
I Joya Joya, alegria da vida! Joya entra, Joya brinca Parola no telefone. Joya, esses teus olhos são Dois lagos de perfeição. Joya dizendo nome feio Joya falando...