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Patético

Rio de Janeiro , 2004

Está ausente. Ausente como as vozes da minha infância 
E muda - eu lhe dou adeus de todos os espaços 
Grito o seu nome em todas as ruas - e os trens passam deixando a distância nas casas que dormem 
Mas está muda e ausente - e os trens passam e eu grito o seu nome… 

Ah, meu amor! por que a saudade está me chamando para a noite? 
Sou eu, sou eu! aquele cuja alma se estende sobre a vida 
Aquele cujo espírito é imenso e cujo coração é trágico 
Eu, eu... E logo nada mais serei que memória e dolorosa lembrança 

Teus gestos e teus olhares de profunda inocência, onde estão? 
Nada se move... - há uma luz, um leito e uma lua lá longe... 
Talvez eu esteja prisioneiro de um destino atroz - socorre-me! 
Talvez eu esteja sofrendo um instante atroz - liberta-me! 

Quero a calma, a pureza, a serenidade do teu mundo 
Quero as manhãs nascendo e as tardes se pondo docemente 
Não quero o horror! as convulsões, os desânimos, as lágrimas, a cólera 
Quero as tuas mãos - e não as encontro no ar, no mar, no luar, no caminhar 

Adormece e vem - eu sei que sou forte e belo para a vida 
Sei que há um gênio inquieto na minha palavra que um dia será ouvida 
Mas nesse momento quero apenas que seja tu a que sabe e a que recebe 
Onde estás? - no país distante que fica ao poente ou no país presente que fica ao levante?… 

Ausente - muda e ausente! crianças que sonham trazei-me o seu sono 
Estrelas que dormem trazei-me o seu sonho. - Mas quem bateu na minha janela? 
- Foi o grito dos trens partindo da tristeza de uns para a alegria de outros 
- Foi o grito do além pedindo o orvalho das madrugadas para a carne dos infelizes…