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O tempo nos parques

Rio de Janeiro , 2004

O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível. 
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira 
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques. 
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos 
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques 
Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques. 
O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros 
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe. 
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques 
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem 
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor 
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques. 
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis 
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica 
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques. 
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja 
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura 
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende 
A imobilidade anterior desse tempo no mundo 
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo 
É o tempo nos parques.