Balada do enterrado vivo
Rio de Janeiro , 1946
Na mais medonha das trevas Acabei de despertar Soterrado sob um túmulo. De nada chego a lembrar Sinto meu corpo pesar Como se fosse de chumbo. ...
Balada do mangue
Oxford , 1946
Pobres flores gonocócicas Que à noite despetalais As vossas pétalas tóxicas! Pobre de vós, pensas, murchas Orquídeas do...
Balada do morto vivo
rio de Janeiro , 1954
Tatiana, hoje vou contar O caso do Inglês espírito Ou melhor: do morto vivo. Diz que mesmo sucedeu E a dona protagonista Se quiser pode ser vista No hospício mais...
Balada dos mortos dos campos de concentração
rio de Janeiro , 1954
Cadáveres de Nordhausen Erla, Belsen e Buchenwald! Ocos, flácidos cadáveres Como espantalhos, largados Na sementeira espectral Dos ermos campos estéreis De...
Balada feroz
Rio de Janeiro , 1938
Canta uma esperança desatinada para que se enfureçam silenciosamente os cadáveres dos afogado Canta para que grasne sarcasticamente o corvo que tens pousado sobre a tua...
Balada negra
Rio de Janeiro , 1935
Éramos meu pai e eu E um negro, negro cavalo Ele montado na sela, Eu na garupa enganchado. Quando? eu nem sabia ler Por quê? saber não me foi...
Balada para Maria
Rio de Janeiro , 1938
Não sei o que me angustia Tardiamente; em meu peito Vive dormindo perfeito O sono dessa agonia... Saudades tuas, Maria? Na volúpia de uma flora Úmida, pecaminosa Nasceu...
Balanço do filho morto
2013
Homem sentado na cadeira de balanço Sentado na cadeira de balanço Na cadeira de balanço De balanço Balanço do filho morto. Homem sentado na cadeira de...
Barcarola
Rio de Janeiro , 1946
Parti-me, trágico, ao meio De mim mesmo, na paixão. A amiga mostrou-me o seio Como uma consolação. Dormi-lhe no peito frio De um sono...
Beleza do corpo da amiga
Rio de Janeiro , 2004
Amiga, teu corpo é como uma sombra quente Onde eu me deito para mirar a água tranqüila dos teus olhos Amiga, teus olhos são como uma água...
Bem pobre sou, ó homem de Deus, herói, mártir, santo...
Rio de Janeiro , 2004
Bem pobre sou, ó homem de Deus, herói, mártir, santo Sou o eterno pensamento de David sobre o leito púrpura de Urias. Sou um escravo! tenho o lar e tenho o...
Bilhete a Baudelaire
rio de Janeiro , 1954
Poeta, um pouco à tua maneira E para distrair o spleen Que estou sentindo vir a mim Em sua ronda costumeira Folheando-te, reencontro a rara Delícia de me deparar Com tua...
Blues para Emmet Louis Till
Rio de Janeiro , 1962
(O negrinho americano que ousou assoviar para uma mulher branca) Os assassinos de Emmet - Poor Mamma Till! Chegaram sem avisar - Poor Mamma Till! Mascando cacos...
Bom dia, tristeza
Rio de Janeiro , 2004
Bom dia, tristeza Que tarde, tristeza Você veio hoje me ver Já estava ficando Até meio triste De estar tanto tempo Longe de...
Canção
Rio de Janeiro , 1946
Não leves nunca de mim A filha que tu me deste A doce, úmida, tranqüila Filhinha que tu me deste Deixe-a, que bem me persiga Seu balbucio...