O poeta Hart Crane suicida-se no mar
Rio de Janeiro , 1953
Quando mergulhaste na água Não sentiste como é fria Como é fria assim na noite Como é fria, como é fria? E ao teu medo que por...
O poeta na madrugada
Rio de Janeiro , 1933
Quando o poeta chegou à cidade A aurora vinha clareando o céu distante E as primeiras mulheres passavam levando cântaros cheios. Os olhos do poeta tinham as claridades da aurora...
O prisioneiro
Rio de Janeiro , 1935
Eu cerrei brandamente a janela sobre a noite quieta E fiquei sozinho e parado, longe de tudo. Nenhuma percepção — talvez uma leve sensação de frio no vento E uma...
O único caminho
Rio de Janeiro , 1933
No tempo em que o Espírito habitava a terra E em que os homens sentiam na carne a beleza da arte Eu ainda não tinha aparecido. Naquele tempo as pombas brincavam com as crianças...
O verbo no infinito
Rio de Janeiro , 1962
Ser criado, gerar-se, transformar O amor em carne e a carne em amor; nascer Respirar, e chorar, e adormecer E se nutrir para poder chorar Para poder nutrir-se; e...
Os malditos
Rio de Janeiro , 1935
(A aparição do poeta) Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois, três, talvez, quatro; cinco, talvez nada Talvez a multiplicação de cinco em...
P(B)A(O)I
Rio de Janeiro , 2004
Rio de Janeiro A Carlos Drummond de Andrade, que com seu só título Boitempo me deu a chave deste poema Pai Modorrando de tarde na cadeira De...
Parte, e tú verás
Rio de Janeiro , 2004
Parte, e tu verás Como as coisas que eram, não são mais E o amor dos que te esperam Parece ter ficado para trás E tudo o que te deram Se...
Perdoai-me, meus amigos,...
Rio de Janeiro , 2004
Perdoai-me, meus amigos, a minha súbita vontade de chorar em vosso mágico convívio Eu tenho vontade de chorar sobre a minha súbita inocência. Tenho também...
Poema de Ano-Novo
Rio de Janeiro , 2004
É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana É preciso... a tristeza está no fundo...
Poema nº três em busca da essência
Rio de Janeiro , 2004
Do amor como do fruto. (Sonhos dolorosos das ermas madrugadas acordando…) Nas savanas a visão dos cactos parados à sombra dos escravos - as negras mãos no ventre...
Poesia 1
Rio de Janeiro , 1979
Elegia desesperada Oxford Alguém que me falasse do mistério do Amor Na sombra - alguém! alguém que me mentisse Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto...
Princípio
Rio de Janeiro , 1938
Na praia sangrenta a gelatina verde das algas — horizontes! Os olhos do afogado à tona e o sexo no fundo (a contemplação na desagregação da forma...) O mar......
Quatro sonetos de meditação
Oxford , 1946
I Mas o instante passou. A carne nova Sente a primeira fibra enrijecer E o seu sonho infinito de morrer Passa a caber no berço de uma cova. Outra carne...
Que hei de fazer de mim,...
Rio de Janeiro , 2004
Que hei de fazer de mim, neste quarto sozinho Apavorado, lancinado, corrompido A solidão ardendo em meu corpo despido E em volta apenas trevas e a imagem do carinho! ...