Soneto ao caju
Rio de Janeiro , 2004
Hollywood Amo na vida as coisas que têm sumo E oferecem matéria onde pegar Amo a noite, amo a música, amo o mar Amo a mulher, amo o álcool e amo o...
Soneto ao inverno
Londres , 1939
Inverno, doce inverno das manhãs Translúcidas, tardias e distantes Propício ao sentimento das irmãs E ao mistério da carne das amantes: ...
Soneto da espera
Rio de Janeiro , 1957
Aguardando-te, amor, revejo os dias Da minha infância já distante, quando Eu ficava, como hoje, te esperando Mas sem saber ao certo se virias. E é bom ficar assim, quieto,...
Soneto da hora final
Rio de Janeiro , 1957
Será assim, amiga: um certo dia Estando nós a contemplar o poente Sentiremos no rosto, de repente O beijo leve de uma aragem fria. Tu me olharás silenciosamente E eu te...
Soneto da madrugada
Rio de Janeiro , 1946
Pensar que já vivi à sombra escura Desse ideal de dor, triste ideal Que acima das paixões do bem e do mal Colocava a paixão da criatura! ...
Soneto da mulher ao sol
Rio de Janeiro , 1962
A bordo do Andrea C, a caminho da França Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz A flor dos lábios entreaberta para o...
Soneto da mulher casual
Rio de Janeiro , 2004
Por não seres aquela que eu buscava Nem do meu ontem nada recordares, Por não haver, aquém e além dos mares, Alguém mais relva e seda, avena e...
Soneto da mulher inútil
rio de Janeiro , 1954
De tanta graça e de leveza tanta Que quando sobre mim, como a teu jeito Eu tão de leve sinto-te no peito Que o meu próprio suspiro te levanta. Tu, contra quem me esbato...
Soneto da rosa tardia
Rio de Janeiro , 1957
Como uma jovem rosa, a minha amada... Morena, linda, esgalga, penumbrosa Parece a flor colhida, ainda orvalhada Justo no instante de tornar-se rosa. Ah, porque não a deixas intocada...
Soneto de agosto
Oxford , 1938
Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados Amamos, vagamente surpreendidos Pelo ardor com que estávamos unidos Nós que andávamos sempre separados. Espantei-me, confesso-te,...
Soneto de carnaval
Oxford , 1939
Distante o meu amor, se me afigura O amor como um patético tormento Pensar nele é morrer de desventura Não pensar é matar meu pensamento. Seu...
Soneto de contrição
Rio de Janeiro , 1938
Eu te amo, Maria, eu te amo tanto Que o meu peito me dói como em doença E quanto mais me seja a dor intensa Mais cresce na minha alma teu encanto. Como a criança que...
Soneto de criação
Rio de Janeiro , 2004
Rio de Janeiro Deus te fez numa fôrma pequenina De uma argila bem doce e bem morena Deu-te uns olhos minúsculos de china Que parecem ter sempre um olhar de...
Soneto de despedida
Rio de Janeiro , 1940
Uma lua no céu apareceu Cheia e branca; foi quando, emocionada A mulher a meu lado estremeceu E se entregou sem que eu dissesse nada. Larguei-as pela jovem...
Soneto de devoção
Rio de Janeiro , 1938
Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia...