voltarPoesias

Variação sobre um soneto de Shakespeare

Rio de Janeiro , 2004

És como um dia cálido de estio... 
Azul? Não, és mais linda e mais amena 
O verão como tudo traz o frio 
E o verão é inconstante, e tu serena. 

Tu não trazes o frio, nem a pena 
Da luz foste - tu vives, como um rio 
Que cantasse uma mesma cantilena 
Num sempre novo manso desvario. 

Não morre o estio em ti - e no teu rosto Ele deixou as cores da manhã E as tristezas suaves do sol-posto.

Sem as marcas cruéis da noite vã. E a morte que em ser também se deita Em tua alma descansa satisfeita.

O soneto é uma composição poética constituída por 14 versos, distribuídos, segundo o modelo petrarquiano (também chamado "soneto italiano"), em 2 quadras e 2 tercetos, as primeiras apresentando duas ordens de rimas e estes últimos duas ou três ordens. O esquema rimático mais freqüente é: 
a b b a / a b b a / c d c / c d c

Tudo leva a crer que o soneto foi criado no século XIII, pelas mãos do poeta siciliano Giacomo de Lentino, em Palermo.

O primeiro grande nome ligado ao soneto é o de Dante, devendo-se a outro mestre da poesia, Petrarca, a consolidação e a difusão do modelo.

Em Portugal, o soneto teve como seu primeiro cultor o poeta Sá de Miranda. Camões dedicou-se amplamente ao soneto, alcançando com ele alguns dos mais altos momentos da literatura universal de todos os tempos.

No Brasil seiscentista, Gregório de Matos empregou o soneto tanto para a lírica sacra e amorosa quanto para a satírica. Adiante, Cláudio Manuel da Costa firmou-se como sonetista de grande valor, ajudando a fortalecer uma tradição que daria nomes como Olavo Bilac e Cruz e Sousa, entre outros.

Num primeiro momento, os modernistas se voltaram contra o soneto, atitude inserida num amplo programa de ruptura com a "fôrma" das formas fixas e dos padrões poéticos tradicionais. No entanto, depois de instalado o verso livre e conquistadas tantas outras liberdades nos níveis da estruturação e do conteúdo, poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade retornaram ao soneto.

Vinicius de Moraes consolidou-se como grande sonetista da moderna literatura brasileira e ajudou a popularizar a forma.

O soneto também pode ser estruturado em três quartetos e um dístico, sendo chamado então "soneto inglês".