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Uiaras, na montanha, ao sol,...

Rio de Janeiro , 2004

Uiaras, na montanha, ao sol, sob a cascata 
Rutilante, movendo as nádegas de prata 
Na farta esmeralda do limo, em gelatina 
Nuas, verdes, nas grandes pedras, na água fina 
- Povo claro de mãos, de torsos e de seios 
Que rubra solidão em mim vossos enleios 
Mornos, graves, fizeram, lânguidos, sonhar 
Que, em mim, se enrijeceu na ânsia de vos dar 
Minha maior humanidade?... 
Desejei 
Vos fecundar 
Não, não o doloroso e apenas 
Gozo de conseguir, das vossas ancas, plenas 
Frenético, a rápida sombra do distante 
Ah, bem antes o sonho, o voto apaziguante 
A sensação do vento da manhã, em ouro 
Dançarino ideal, trazendo o pólen louro 
Às flores ainda adormecidas nas estrelas... 

(Qualquer coisa que vem da calma de sabê-las 
Infecundas... - e só sentir fecundidade 
No infecundo, e só viver dessa verdade...) 

Como eu sou desigual! talvez que o meu desejo 
Seja terrível... - pequena visão que eu vejo 
Cresce acima de mim meu corpo animal. 

Ó dor! só sinto o Bem como o supremo mal 
Ó seres de paixão!... 
- que mais cruel martírio 
Essa espera sem fim, morrendo como um lírio 
Pelo amor sem perdão das rosas impossíveis?... 
No entanto, que música acordas, que invisíveis 
Preces despertas, que cores descobres, claridade! 
Sou bem alguém, alguma coisa, ou, uma ansiedade 
De seres e de coisas? 

Ah, meu corpo teme as 
Trevas da noite, mas ela deseja dessas fêmeas 
A treva da consumação... Mas serei eu 
Depois? Será minha a minha alma e meu 
O meu corpo? 
Jamais. 
Mínha vaidade é eterna.