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Soneto com pássaro e avião

Rio de Janeiro , 2004

De "O grande desastre do six-motor francês 
Leonel de Marmier, tal como foi visto e vivido pelo poeta 
Vinicius de Moraes, passageiro a bordo" 

Uma coisa é um pássaro que voa 
Outra um avião. Assim, quem o prefere 
Não sabe às vezes como o espaço fere 
Aquele. Um vi morrer, voando à toa 

Um dia em Christ Church Meadows, numa antiga 
Tarde, reminiscente de Wordsworth... 
E tudo o que ficou daquela morte 
Foi um baque de plumas, e a cantiga 

Interrompida a meio: espasmo? espanto? 
Não sei. Tomei-o leve em minha mão 
Tão pequeno, tão cálido, tão lasso 

Em minha mão... Não tinha o peito de amianto. 
Não voaria mais, como o avião 
Nos longos túneis de cristal do espaço...