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O corta-jaca

Rio de Janeiro , 2004

Rattus rattus rattus 
(Pelas sarjetas de Ipanema e do Leblon) 
Rattus rattus rattus 
(Estupefatos gatos fogem de pavor) 
Rattus rattus rattus 
A tua louca simetria 
Rói a raiz dos próprios fatos 
Rattus rattus 
E acaba roendo a poesia. 

Rattus rattus rattus 
(Foi o mesmo Deus que fez o lírio quem te fez?) 
Rattus rattus rattus 
(Tu multiplicas dois por quatro igual a dez) 
Rattus rattus rattus 
Impessoal procriador 
Não chegues junto aos meus sapatos 
Rattus rattus 
Porque eu te mato, ó roedor. 

É o rato é o rato 
É o rato criança 
Cujo artesanato 
Lhe vem da lembrança 
Do rato rapaz 
Que guarda o retrato 
Risonho e roaz 
Do rato do rato 
Do rato já velho 
Que fuma charuto 
Se olhando no espelho 
E de quem os atos 
Que a cifra amplifica 
Um bando de ratos 
Sempre ratifica. 
Um rato de preto 
E um rato de branco 
Um rato de frente 
E um rato de flanco; 
Um rato de púrpura 
E um rato de cáqui 
Um rato de feltro 
E um rato de fraque; 
Um rato de imprensa 
Que tem que viver 
É um rato que pensa 
Um rato abstrato 
Que rói por roer; 
Um rato esquisito 
Que vive em Paris 
É um rato erudito 
Um rato de giz; 
E além desses ratos 
Os ratos da terra 
Que servem a outros ratos 
Que não são da terra 
Tem dona Ratona 
E os rato-ratinhos 
Tão engraçadinhos 
Brincando de guerra 
Rattus rattus rattus etc...