voltarPoesias

A morte do pintainho

Rio de Janeiro , 1970

Quem matou o pintainho? 
Eu, disse o pato 
Com meu pé chato 
Eu matei o pintainho. 

Quem viu ele morto? 
Eu, disse o mocho 
Com meu olho torto 
Eu vi ele morto. 

Quem chupou seu sangue? 
Eu, disse o morcego 
Que não sou cego 
Eu chupei seu sangue. 

Quem lhe deu mortalha? 
Eu, disse a aranha 
Com teia e artimanha 
Eu lhe dei mortalha 

Quem vai ser o padre? 
Eu, o louva-a-deus 
Em nome de Deus 
Eu serei o padre. 

Quem será o sacrista? 
Eu, disse o frango 
Com a minha crista 
Eu serei o sacrista. 

Que leva o caixão? 
Eu, disse o gavião 
Sei bem porque não 
Eu levo o caixão 

Quem será o coveiro? 
Eu, a toupeira 
Eu que sou coveira 
Eu serei o coveiro. 

Quem fará o túmulo? 
Eu, disse o joão-de-barro 
Pois que tenho barro 
Eu farei o túmulo. 

Quem leva a vela? 
Eu, o vaga-lume 
Eu acendo o lume 
E eu levo a vela. 

Quem vai cantar? 
Eu, o pardal 
La-la-ri-la-ra 
Eu sei cantar. 

Quem leva as coroas? 
Eu, disse o cisne 
Já que não dou rima 
Eu levo as coroas. 

Quem toca o sino? 
Disse o suíno: 
Eu mais o boi 
Nós tocamos o sino. 

Quem vai na frente? 
Eu, o periquito 
Porque sou bonito 
Eu vou na frente. 

Todo o pássaro do ar 
Foi chorar lá no seu ninho 
Ao ouvir tocar o sino 
Pelo pobre pintainho.