voltarPoesias

Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto

Rio de Janeiro , 1959

Hoje a pátina do tempo cobre também o céu de outono 
Para o teu enterro de anjinho, menino morto 
Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. 
Berçam-te o sono essas velhas pedras por onde se esforça 
Teu caixãozinho trêmulo, aberto em branco e rosa. 
Nem rosas para o teu sono, menino morto 
Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. 
Nem rosas para colorir teu rosto de cera 
Tuas mãozinhas em prece, teu cabelo louro cortado rente... 
Abre bem teus olhos opacos, menino morto 
Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. 
Acima de ti o céu é antigo, não te compreende. 
Mas logo terás, no Cemitério das Mercês-de-Cima 
Caramujos e gongolos da terra para brincar como gostavas 
Nos baldios do velho córrego, menino morto 
Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. 
Ah, pequenino cadáver a mirar o tempo 
Que doçura a tua; como saíste do meu peito 
Para esta negra tarde a chover cinzas... 
Que miséria a tua, menino morto 
Que pobrinhos os garotos que te acompanham 
Empunhando flores do mato pelas ladeiras de Ouro Preto... 
Que vazio restou o mundo com a tua ausência... 
Que silentes as casas... que desesperado o crepúsculo 
A desfolhar as primeiras pétalas de treva...

Livros com essa poesia