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Balada da praia do Vidigal

Rio de Janeiro , 1946

A lua foi companheira 
Na praia do Vidigal 
Não surgiu, mas mesmo oculta 
Nos recordou seu luar 
Teu ventre de maré cheia 
Vinha em ondas me puxar 
Eram-me os dedos de areia 
Eram-te os lábios de sal. 

Na sombra que ali se inclina 
Do rochedo em miramar 
Eu soube te amar, menina 
Na praia do Vidigal... 
Havia tanto silêncio 
Que para o desencantar 
Nem meus clamores de vento 
Nem teus soluços de água. 
Minhas mãos te confundiam 
Com a fria areia molhada 
Vencendo as mãos dos alísios 
Nas ondas da tua saia. 
Meus olhos baços de brumas 
Junto aos teus olhos de alga 
Viam-te envolta de espumas 
Como a menina afogada. 
E que doçura entregar-me 
Àquela mole de peixes 
Cegando-te o olhar vazio 
Com meu cardume de beijos! 
Muito lutamos, menina 
Naquele pego selvagem 
Entre areias assassinas 
Junto ao rochedo da margem. 
Três vezes submergiste 
Três vezes voltaste à flor 
E te afogaras não fossem 
As redes do meu amor. 
Quando voltamos, a noite 
Parecia em tua face 
Tinhas vento em teus cabelos 
Gotas d'água em tua carne. 
No verde lençol da areia 
Um marco ficou cravado 
Moldando a forma de um corpo 
No meio da cruz de uns braços. 
Talvez que o marco, criança 
Já o tenha lavado o mar 
Mas nunca leva a lembrança 
Daquela noite de amores 
Na praia do Vidigal.

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