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A semana cinematográfica

2 de Julho de1951

Benza-o Deus, esta que hoje entra se enuncia mais pródiga um pouco do que ver nas telas cariocas. Olhem que tem sido labor ingrato para o cronista estar sempre espinafrando, sempre fazendo caçoada dos filmes em cartaz. Palavra que não é espírito de porco, como pensam alguns, mas eu simplesmente me recuso a falar a sério de películas como Sansão e Dalila ou O cavaleiro de Sherwood. Minha vontade seria arrasar muito mais ainda, porque eu não só acho que a sua exibição constitui um desserviço ao povo - pela falsificação histórica, pelo mau gosto, pelo abuso comercial que representam, como porque eu não estou aqui para isso. Ainda outro dia recebi carta de um leitor me dizendo que tinha ficado irritado com a minha crônica sobre Sansão e Dalila - que diabo! eu devia ser mais justo, procurar ver os lados bons do filme, o seu caráter popular, etc. etc. Parecia até carta do encarregado da publicidade do filme, cujo zelo eu, se esse fosse o caso, respeitaria porque se trata de um emprego, e os empregos são coisas respeitáveis nesses tempos que correm. Mas a questão é que Sansão e Dalila, ou O cavaleiro de Sherwood são justamente essa coisa odiosa que é o falso popular: o comercial, a bugiganga com que se ludibria a ingenuidade do alheio. 

Esta semana o panorama se anuncia melhor. Em primeiro lugar há uma fita de Fred Astaire, e Astaire por pior que seja o filme em que atua, é um grande dançarino e ninguém gastará seus Cr$ 7,70 em vão. Em Astaire, há uma técnica a apreciar, há o que subtrair, em matéria de comunicação artística, da graça do seu movimento. A dança de Fred Astaire acrescenta alguma coisa a alguém. Em segundo lugar, há um filme de Lewis Milestone, que é indiscutivelmente um dos maiores diretores americanos de todos tempos. Não cheguei a ver Até o último homem, em Hollywood, mas de qualquer modo, a notícia de um filme do diretor de Nada de novo no front é uma coisa auspiciosa. Vi em compensação O clamor humano, também programado para a semana que entra, e reservo meus comentários para outro dia, depois de rever esta película que trata da questão de negros e brancos nos Estados Unidos. Em terceiro lugar, há Terra é sempre terra, a nova produção da Vera Cruz que, tenho a certeza, me dará assunto para uma boa crônica. E juro que não há nada que este cronista goste mais que de tratar a sério o material de cinema que lhe vem aos olhos e às mãos. Eia, pois.