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A extinção do Crown Film Unit Britânico

Última Hora , 1 de Março de1952

Julgamos de interesse público a publicação da carta aberta abaixo transcrita, dirigida ao editor de The Times e subscrita pelos mais famosos homens de cinema da Inglaterra a propósito da notícia de que o Crown Film Unit seria extinto dentro da política de compressão de despesas ora levada a efeito naquele país. O documento é tão mais interessante quanto se refere a Alberto Cavalcanti, o conhecido diretor patrício, com palavras que o situam bem para o leitor menos avisado no panorama da cinematografia mundial. 

Eis a carta: 

The Times - Seção Weekly Review - 7 de fevereiro de 1952 

Sir, 
A notícia de que o Crown Film Unit vai ser extinto, como parte das medidas de economia do governo britânico, é um sério golpe contra o prestígio do filme inglês e contra a tradição da produção de filmes pelo governo.
 
O Crown Film Unit tem uma longa e nobre história. Teve início como Empire Marketing Board Film Unit que sir Stephen Fallents e o sr. John Grierson criaram em 1929. Foi mais tarde absorvido como GPO Film Unit em 1933 e rebatizado Crown Film Unit pelo Ministério de Informação pouco depois do começo da última guerra. Nos seus 22 anos de vida foi responsável por muitos filmes famosos não somente na história do documentário britânico, mas também no desenvolvimento do cinema mundial. Esses magníficos filmes incluem Drifters, North Sea, Target for Tonight, Fires Were Started, Britain Can Take It, Western Approches, Merchant Seamen, Coastal Command, Children on Trial, e Daybreak in Udi. 

Sob sua influência novas técnicas e trabalhos experimentais se desenvolveram e tiveram um efeito marcante na produção comercial de filmes. Os srs. Robert J. Flaherty, Cavalcanti e outros hóspedes ali trabalham. Sua lista de prêmios em festivais internacionais foi excepcional. Acrescentou aos seus sucessos estéticos, um papel importantíssimo, tanto na projeção da Inglaterra no mundo internacional, como na interpretação do povo britânico para ele próprio, considerado com respeito e muitas vezes com uma inveja, como modelo por governos e produtores de filmes do exterior. Foi a exemplo seu que nasceram as atuais produções de filmes National Film Boards do Canadá, da Áustria e Nova Zelândia. 

No momento em que tantos países estão aumentando sua produção de filmes de informação e propaganda, abolir esta importante equipe nos parece uma falsa e irrefletida medida de economia. Pedimos instantemente que esta decisão seja revogada e que o Crown Film seja mantido numa escala que lhe possibilite produzir trabalhos de imaginação cuja mostra nos orgulhe em qualquer parte do mundo. 

Somos, sir, sinceramente, Paul Rotha, Presidente; Roger Manyell, Diretor; William Alwyn, Michele Balcon, Basil Derden, Thorold Dickinson, Charles Frend, Sidney Gilliat, Frank Launder, David Lean, Carol Reed, Basil Wright, Membros do Conselho, British Film Academy, 117 Piccadilly W. I.