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Conceito de montage

Última Hora , 22 de Dezembro de1951

Quando se fala em montagem cinematográfica, não é de montage que se fala. Os dois conceitos andam um pouco misturados na cabeça dos fãs incipientes devido à falta de sistematização do vocabulário técnico do cinema. Em geral, quando nos queremos referir ao processo de fusão de muitas imagens de modo a encurtar o processo narrativo (por exemplo: o cabeçalho imagístico dos jornais cinematográficos; as cenas tão comuns que mostram, em meio a uma Película, um acontecimento histórico importante como a Primeira Grande Guerra, o Crack da Bolsa, manchetes de jornal fundidas anunciando um fato qualquer, etc.) nós o chamamos sumariamente de montagem - o que subtrai ao vocabulário a possibilidade de designarmos pelo mesmo nome o processo de montage, como o chamaram os diretores russos, e que consiste num modo dinâmico de significar alguma coisa pela interpolação de imagens aparentemente diversas mas que, contrapontadas ritmicamente, adquirem um sentido geral. 

Em seu excelente livro A técnica do filme, o diretor Pudovkin explica bem o processo, que veio dar um tremendo impulso à linguagem do cinema, e que ninguém melhor que ele e Eisenstein souberam empregar. Em seu filme Mãe, sobre o romance de Gorki, há um exemplo que explica melhor que qualquer outro como se atinge, cinematograficamente, o processo em apreço. Há um determinado momento em que Pudovkin precisa dar ao público a noção rápida do tremendo anseio de liberdade que vai na mente de um homem aprisionado sem precisar recorrer a qualquer processo espúrio. Pudovkin limitou-se a "montar" um primeiro plano do rosto do prisioneiro com duas ou três imagens mais, aparentemente diversas e sem relação lógica, como sejam a do rosto de uma criança sorrindo, a de um pequeno córrego correndo ao sol, etc., - o voltar ágil e o ritmo abrupto da sucessão de imagens dão instantaneamente ao espectador - e de maneira altamente poética - esse sentimento de que o diretor precisa para significar que naquele determinado momento, houve dentro da mente de um prisioneiro silencioso um tremendo apelo do mundo fora e uma irresistível vontade de sair de seu cárcere e incorporar-se à vida em liberdade. E a isso chama-se montage.