voltarMovie

Com sua permissão, Sir Lawrence Olivier

Última Hora , 11 de Março de1952

Com sua permissão, sir Lawrence Olivier, mas sábado eu dei uma entrada no Metro Copacabana, à base do araque, para rever A ponte de Waterloo. Tinha visto o filme há muito tempo, meu caro sir, e não sei por que - ah, eu creio que com os anos aprendi a ver melhor a beleza das mulheres! -, não cheguei, então, a dar à sua nobre cônjuge a metade da atenção que ela merece.
 
Não se zangue, não. Estou lhe falando de coração aberto. Mas eu achei lady Lawrence Olivier uma coisa absolutamente estupefaciente. Confesso-lhe que, dela, a grande e profunda beleza não me encantou apenas os olhos - comoveu-me o coração e meio que me deixou triste. A beleza das mulheres quando é assim sublime, e se acresce de encanto, é de cortar o peito de um homem.
 
Desculpe a confiança, mas se eu fosse o senhor, eu largava esse negócio de sir, largava também esse negócio de ser de cinema e teatro (com mil perdões pelo trocadilho) e ficava em casa o tempo todo prostrado, adorando sua senhora. De novo lhe peço que não me leve a mal, pois não há em mim nem sombra de segundas intenções, mas se eu fosse o senhor, não punha uma mulher daquelas para trabalhar. Não vê! Cada vez que ela me desse um sorriso infantil daqueles, um sorriso confiante e doce daqueles; cada vez que ela pusesse nos meus aqueles olhos enormes, aqueles enormes olhos inocentes, eternamente molhados de pureza e sóbrio conhecimento - eu... eu... eu... eu sei lá o que é que eu fazia. Eu dava pantana; eu entrava no Bolero e dançava um tango argentino com a primeira vigarista que me passasse; eu fazia três entrechats e 15 pas de bourrée em plena praia de Copacabana; eu ia a Caxias, andava de trem da Central, era capaz de suplantar o Ademir, fazia misérias, sir Lawrence Olivier, fazia misérias. 

Aliás, quem sou eu para estar falando... Eu acredito piamente, sir Lawrence, que o senhor faça misérias. Porque eu, que não sou sir nem nada - ah, eu faço. Também, hein, sir Lawrence... Ô peste de coisa danada de bonita que é mulher, hein, sir Lawrence...