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Ciúme que mata (I)

Última Hora , 29 de Novembro de1951

O nome de King Vidor é uma honra para a cinematografia. Apesar do grande diretor haver, nos últimos 15 anos, sufocado o alto cinema que criara dentro da melhor linha americana, provavelmente para não entrar em conflito com a sua sociedade, o legado que deixou na história da arte da imagem em movimento é título bastante para que se relevem suas fraquezas de mais tarde. 

King Vidor é grande sobretudo por três filmes: A turba, Aleluia, No turbilhão da metrópole. Confesso que ao rever Aleluia há cerca de dois anos, tive um desaponto, pois o filme, tirante algumas extraordinárias seqüências que possui, é no fundo ingênuo e sentimental - e, apesar da coragem mostrada pelo diretor ao enfrentar o tema, o verdadeiro drama do negro americano ficou à margem da produção, e o retrato dele é esquemático e às vezes indigno. Mas malgrado tudo isso Aleluia resta um filme de cinema. E Turba e o No turbilhão da metrópole então nem se fala. 

São obras másculas de cinematografia, com um fundo sentido de dinâmica da arte e uma aguda consciência social. Tão mais importante quanto representam um marco novo na linha do cinema americano - esse que vem de The Great Train Robbery e o que o imenso D.W. Griffith deu forma até o melhor John Huston. 

Uma série de diretores menores poderiam ser incluídos nessa linha, mas deixarei a conversa para uma crônica futura. Nesta quero apenas lembrar aos muitos "fãs" jovens que certamente dirão ao ver Ciúme que mata: "Mas esse é o grande King Vidor?". As decorrências naturais de se ter de viver a criar num meio como Hollywood, sob sujeição do mau gosto das produções correntes e da testa franzida dos chefões para os temas adultos e controversos. O caso de King Vidor é típico - faltou-lhe estímulo para continuar a perseguir seu poderoso cinema, e o resultado é este: um filme em que se sente ainda um pulso firme de diretor, mas nunca daquele diretor que fez a câmera correr da rua até uma janela, em No turbilhão da metrópole, na presciência do crime violento no interior do quarto de uma adúltera.