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Alma em revolta

Última Hora , 3 de Agosto de1951

Hollywood! Hollywood! 
Que fizeste com Mark Robson, Hollywood? Mark Robson até que era bonzinho. 
Não era nenhum Eisenstein, nem Stroheim, 
Nem Gance, nem qu'est que tu penses 
Mas sabia dar um ar assim de à gente 
(Estava na Lapa ou na rua do Catete) 
Mas de repente ele está se tornando um grandíssimo cacete 
Como nessa fita Alma em revolta onde ele pega um padre com uma cara larga 
E o padre fica contando uma história, e nunca mais que larga 
É a história de um menino 
Que por bancar o Claudionor acabou sendo assassino 
Por isso eu sempre digo: trabalhem, meus filhos, trabalhem 
Mas nunca exagerem, nunca se matem de trabalhar, porque assim 
Podem acabar vendo o sol nascer quadrado numa cela em Sing-Sing 
Como Farley Granger, que passeia nesse filme, de olhar fixo 
Por haver esfriado um padre com seu próprio crucifixo. 
Aliás, coisa que me intrigou sobremodo 
Foi que o beiço do assassino treme e treme o tempo todo 
Talvez, quem sabe porque a mãe (dele) estava morta 
E a sua namorada tinha a cara meio torta 
Mas gente com namorada torta existe muita nos dois hemisférios 
E nem por isso matam padres no interior do presbitério 
Sobretudo pela simples razão de querer que a mãe tivesse um enterro de primeira 


Com rosas, gladíolos, limousines e mais toda essa besteira 
O que eu sei é que a fita fica assim nesta agonia 
Com um falso ar de que é boa, mas acaba dando azia 
Farley Granger adotou um andar meio automático 
Enquanto que Dana Andrews fica pregando moral com um certo ar pragmático 

Há também um "tira" esperto, que desconfiadíssimo 
Que Farley Granger é que despachou o padre para o altíssimo 
Suspeita que, de resto, se confirma no fim da película 
Com uma cena de tocar a campainha da porta de Igreja (que não chega a ser ridícula), 
Tirante isso a fotografia é boa, e há uns momentos de suspense 
Mas eu não acho em absoluto que nada disso compense 
Dito o que fecho a crônica (antes que a crônica feche 
Peço perdão pelo empréstimo ao poeta Ogden Wash).