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A ponte de Van Gogh

Rio de Janeiro , 2004

Itatiaia
O lugar não importa: pode ser o Japão, a Holanda, a campina inglesa. 
Mas é absolutamente preciso que seja domingo. 

O azul do céu ecoa na esmeralda do rio 
E o rio reflete docemente as margens de relva verde-laranja 
Dir-se-ia que da mansão da esquerda voou o lençol virginal de miss 
Para ser no céu sem mancha a única nuvem. 
A calma é velha, de uma velhice sem pátina 
As cores são simples, ingênuas 
A estação é feliz: o guarda da ponte chegou a pintar 
De listas vermelhas o teto de sua casinhola. 
E, meu Deus, se não fossem esses diabinhos de pinheiros a fazer caretas 
E a pressa com que o homem da charrete vai: 
- A pressa de quem atravessou um vago perigo 
Tudo estivesse perfeito, e não me viesse esse medo tolo de a pequena ponte levadiça 
Desabe e se molhe o vestido preto de Cristina Georgina Rosseti 
Que vai de umbrela especialmente para ouvir a prédica do novo pastor da vila.

 

Itatiaia, 1937.

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