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Balada do cavalão

Rio de Janeiro , 1946

A tarde morre bem tarde 
No morro do Cavalão... 
Tem um poder de sossego. 
Dentro do meu coração 
Quanto sangue derramado! 

Balança, rede, balança... 

Susana deixou minha alma 
Numa grande confusão 
Seu berço ficou vazio 
No morro do Cavalão: 
Pequena estrela da tarde. 

Ah, gosto da minha vida 
Sangue da minha paixão! 

Levou o anjo o outro anjo 
Da saudade de seu pai 
Susana foi de avião 
Com quinze dias de idade 
Batendo todos os recordes! 

Que tarde que a tarde cai! 

Poeta, diz teu anseio 
Que o santo te satisfaz: 
Queria fazer mais um filho 
Queria tanto ser pai! 

Voam cardumes de aves 
No cristal rosa do ar. 
Vontade de ser levado 
Pelas correntes do mar 
Para um grande mar de sangue! 

E a vida passa depressa 
No morro do Cavalão 
Entre tantas flores, tantas 
Flores tontas, parasitas 
Parasitas da nação. 

Quanta garrafa vazia 
Quanto limão pelo chão! 

Menina, me diz um verso 
Bem cheio de ingratidão? 
- Era uma vez um poeta 
No morro do Cavalão 
Tantas fez que a dor-de-corno 
Bateu com ele no chão 
Arrastou ele nas pedras 
Espremeu seu coração 
Que pensa usted que saiu? 
Saiu cachaça e limão. 

Susana nasceu morena 
E é Mello Moraes também: 
É minha filha pequena 
Tão boa de querer bem! 

Oh, Saco de São Francisco 
Que eu avisto a cavaleiro 
Do morro do Cavalão! 
(O Saco de São Francisco 
Xavier não chama não 
Há de ser sempre de Assis: 
São Francisco Xavier 
É nome de uma estação) 
Onde está minha alegria 
Meus amores onde estão? 

A casa das mil janelas 
É a casa do meu irmão 
Lá dentro me esperam elas 
Que dormem cedo com medo 
Da trinca do Cavalão. 

Balança, rede, balança...

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