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Balada das meninas de bicicleta

Rio de Janeiro , 1946

Meninas de bicicleta 
Que fagueiras pedalais 
Quero ser vosso poeta! 
Ó transitórias estátuas 
Esfuziantes de azul 
Louras com peles mulatas 
Princesas da zona sul: 
As vossas jovens figuras 
Retesadas nos selins 
Me prendem, com serem puras 
Em redondilhas afins. 
Que lindas são vossas quilhas 
Quando as praias abordais! 
E as nervosas panturrilhas 
Na rotação dos pedais: 
Que douradas maravilhas! 
Bicicletai, meninada 
Aos ventos do Arpoador 
Solta a flâmula agitada 
Das cabeleiras em flor 
Uma correndo à gandaia 
Outra com jeito de séria 
Mostrando as pernas sem saia 
Feitas da mesma matéria. 
Permanecei! vós que sois 
O que o mundo não tem mais 
Juventude de maiôs 
Sobre máquinas da paz 
Enxames de namoradas 
Ao sol de Copacabana 
Centauresas transpiradas 
Que o leque do mar abana! 
A vós o canto que inflama 
Os meus trint'anos, meninas 
Velozes massas em chama 
Explodindo em vitaminas. 
Bem haja a vossa saúde 
À humanidade inquieta 
Vós cuja ardente virtude 
Preservais muito amiúde 
Com um selim de bicicleta 
Vós que levais tantas raças 
Nos corpos firmes e crus: 
Meninas, soltai as alças 
Bicicletai seios nus! 
No vosso rastro persiste 
O mesmo eterno poeta 
Um poeta - essa coisa triste 
Escravizada à beleza 
Que em vosso rastro persiste, 
Levando a sua tristeza 
No quadro da bicicleta.

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