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Soneto da Ilha

Rio de Janeiro , 2004

Quarta feira de cinzas, Niterói
Eu deitava na praia, a cabeça na areia 
Abria as pernas aos alísios e ao luar 
Tonto de maresia; e a mão da maré cheia 
Vinha coçar meus pés com seus dedos de mar. 

Longos êxtases tinha; amava a Deus em ânsia 
E a uma nudez qualquer ávida de abandono 
Enquanto ao longe a clarineta da distância 
Era também um mar que me molhava o sono. 

E adormecia assim, sonhando, vendo e ouvindo 
Pulos de peixes, gritos frouxos, vozes rindo 
E a lua virginal arder no plexo 

Estelar, e o marulho das ondas sucessivas 
Da monção, até que alguma entre as mais vivas 
Mansa, viesse desaguar pelo meu sexo.

 

Niterói, 1941.