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Minha mãe, diz a santa Teresa que quando eu morrer...

Rio de Janeiro , 2004

Minha mãe, diz a santa Teresa que quando eu morrer 
Eu quero ir para o céu. 
Fala com são Francisco também, providencia 
Conta minha infância, quando como o tempo 
Em que você falava com a gente uma porção de histórias 
São Francisco é meu amigo, ele compreende 
Santa Teresa é boazinha, ela sabe 
Diz a eles que eu cantava antes de falar, que eu mentia 
Que tinha visto Nossa Senhora para os garotos da Ilha e eles acreditavam 
Para são Francisco você adota o tom simples 
Para santa Teresa você adota o tom franco 
Vai logo dizendo, fala que eu já li o Inferno de Dante 
Que eu já sei como é e como já sei não preciso mais ir 
Eles compreendem, eles são bonzinhos 
Eles sabem que você está exagerando mas dão o desconto 
Para são Francisco diz que eu sei cantar e que eu sou poeta 
Para santa Teresa diz que eu sei umas anedotas de padre 
Que a gente pode ficar conversando os três 
Dando miolo de pão aos passarinhos 
Fazendo improviso e graça com são Tomás de Aquino 
Se for preciso diz francamente que eu não presto 
Mas que eu quero ir pro céu 
Que o purgatório é muito úmido, e o inferno 
Tem Lucrécia e uma porção de mulheres para mexer comigo 
Diz que eu me comporto, que eu só quero 
É estar com eles falando poesia 
Discutindo Rimbaud e tocando violão em noite de lua cheia 
Não diz que eu sou formado, nem que eu sou laureado 
Nem que vim pra Oxford, nem que trabalhei para o governo 
Diz só que eu não quero perder minha poesia nem minha tristeza 
Que eu quero ver meu amigo Rainer Maria Rilke 
Que eu quero ficar deitado pensando enquanto eles rezam.