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Forma e exegese

Rio de Janeiro, Pongetti, 1935

Forma e Exegese marca a continuidade da carreira de Vinicius de Moraes como poeta. Ainda com 22 anos, era o segundo livro do jovem que ainda se apegava ao Simbolismo como escola dileta na hora de fazer versos ou escolher temas. As várias dedicatórias do livro para Arthur Rimbaud, Mallarmé, Claudel ou Jacques Riviére, selam a aliança do jovem poeta com sua matriz literária francesa e nos mostra a filiação poética que Vinicius ainda cultivava. 

Apesar do apego ao universo simbolista e sua ligação com o meio intelectual católico do Rio de Janeiro, o livro apresenta alguns primeiros passos em futuras poéticas mais amplas do autor. Poemas como “Ilha do Governador”, sobre sua infância no bairro carioca, ou “A volta da mulher morena” se destacam dos longos versos sobre morte, virgens, êxtases, Deus e toda a aura mística que emana da maioria de suas páginas. Eles já apontam para um Vinicius que vislumbraria não só dor, mas também prazer e luz nos temas ligados à sua cidade natal e à mulher, mote central de sua poética posterior. 

Forma e Exegese foi um claro passo adiante do jovem poeta em relação ao seu primeiro livro e conseguiu ganhar destaque no meio literário do período. Mesmo sem ainda ter na ocasião a amizade que construiria ao longo da vida, ele recebe publicamente críticas positivas de um então já maduro Manuel Bandeira. Com o livro, Vinícius ganha o prestigioso prêmio Filipe d’Oliveira.

Nota Bibliográfica

Na Poesia completa e Prosa editada pela Nova Aguilar (1ª ed. 1968; 2ª ed. 1974), este livro aparece agrupado com outros dois (O caminho para a distância e Ariana, a mulher), sob um título (denominado "epífrafe") único: O sentimento do sublime. O responsável por tal organização foi o professor e crítico Afrânio Coutinho (1911-2000), com a concordância de Vinicius de Moraes. Neste site, o usuário pode acessar os livros pelos seus títulos originais - conforme as edições anteriores à reunião em volume pela Nova Aguilar.

Forma e exegese foi publicado em 1935 (Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti), 173 p. A epígrafe do volume é de J. Rivière - "Je ne vois clair qu'au contact de la vie." e é dedicado a Jean-Arthur Rimbaud e Jacques Rivière.

O livro é dividido em 5 partes:

I - (De "O olhar para trás" a "Ausência" - poemas de 1 a 6)
Epígrafe de León Bloy: "Souffrir passe, avoir souffert ne passe jamais."

II - (De "O incriado" a "Agonia" - poemas de 7 a 12)
Epígrafe de uma carta de Mário Vieira de Mello: "Deus existe, eu é que não existo.", e de Mallarmé: "- Le Ciel est mort. - Vers toi, j'accours! donne, ô matière.".

III - (De "A legião dos Úrias" a "A música das almas" - poemas de 13 a 19)
Epígrafe de Goethe: "Todo o efêmero não é senão símbolo.", e de Rimbaud: "… j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir.".

IV - (De "O bergantim da aurora" a "A lenda da maldição" - poemas de 20 a 24)
Epígrafe de Rimbaud: "Mais, vrai, j'ai trop pleuré. Les aubes sont navrantes / Toute lune est atroce et tout soleil amer.".

V - (Composta pelas três partes do poema "Os malditos")
Epígrafe de Rimbaud: "Assez! voici la punition: - En Marche!".