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Todas as namoradas que eu já tive...

Rio de Janeiro , 2004

Todas as namoradas que eu já tive 
Estão noivas 
Uma só dentre todas não está noiva 
Casou-se. 
Nenhuma se lembra mais de mim 
As que tiveram meus beijos evitam meus olhos 
As que tiveram minha afeição riem mal de mim 
E beijam furtivamente os noivos nos cinemas e nas praias 
Todas têm meus sonetos de amor 
Com promessas ardentes de constância e fidelidade 
Todas têm meu retrato 
O retrato do menino risonho que eu já fui 
Com todas eu gastei algumas horas do dia 
E algumas horas da noite 
Todas estão noivíssimas 
E são apenas meninas sem juízo fazendo o que querem 
Dando aos namorados anteriores a satisfação social do noivado 
E exibindo o noivo bonito aos olhos das moças sem namorado. 

Algumas eu estimei sinceramente 
Sem grandes palavras mas com olhares francos 
Olhares que eu estudava nos bondes com outras 
Para fazê-los ainda mais verdadeiros 
Com outras me diverti 
Passeando horas e horas braço com braço 
Com palavras grandes e pequenos olhares 
A todas eu feri inconscientemente 
As que eu beijei e as que eu não beijei 
As que eu beijei porque um dia não quis beijar 
As que eu não beijei porque um dia quis beijar. 

Vi-as fugirem todas de mim 
E me vi fugindo de todas elas 
Vejo-as agora aqui e ali ontem e hoje 
A casada, com um filho 
As noivas, com brilhos maternais nos olhos 
Futuros infelizes para o mundo 
Vejo-me por momentos pai de família comprando brinquedos 
E a satisfação de estar só é tão grande 
Que no fundo eu estimo sinceramente todas essas meninas 
Que estão noivas e serão muito felizes 
E a que está casada e não é feliz mas faz que é 

E me estimo mais, ainda, a mim próprio 
Que estou só, feliz e só, com os meus amigos e com a minha boemia discreta.