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Perdoai-me, meus amigos,...

Rio de Janeiro , 2004

Perdoai-me, meus amigos, a minha súbita vontade de chorar em vosso mágico convívio 
Eu tenho vontade de chorar sobre a minha súbita inocência. Tenho também (eu vos confesso) 
Vontade de chorar sobre a bandeja de asa de borboleta 
Sobre os olhos do menino morto de avitaminose em Ouro Preto, Mariana 
E o pudor de quando na hora do almoço reparei nos seus seios adolescentes. 
É tarde hoje na noite. A ti, poeta 
Meu irmão desde Jesus, tu que acordaste 
Os ecos gerais da minha poesia; a ti 
Que primeiro sentiste o amor absoluto, o mar absoluto, o luar absoluto, o despojamento total 
Da minha inútil poesia; a ti 
Que, desde sempre, foste o esperado, o inesperado, o desesperado amigo 
Sem passado nem futuro; a ti que uma manhã 
Bateste na porta do banheiro do Hotel Montaigne (Ex-des-Théâtres), 5, avenue Montaigne, Paris 8ème 
E me disseste: C'est Jean-Georges Rueff (e eu não soube de quem se tratava 
Porque a carta que me escreveste para Los Angeles pedindo-me permissão para traduzir minhas elegias datadas de quatro anos antes e eu, além disso, não tenho o hábito de lembrar de ninguém que não conheço, e estava muito apaixonado demais por minha mulher palra poder lembrar de alguém que tivesse a coragem de bater na minha porta num banheiro em Paris)