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A perdida esperança

Rio de Janeiro , 2004

Paris
De posse deste amor que é, no entanto, impossível 
Este amor esperado e antigo como as pedras 
Eu encouraçarei o meu corpo impassível 
E à minha volta erguerei um alto muro de pedras. 

E enquanto perdurar tua ausência, que é eterna 
Por isso que és mulher, mesmo sendo só minha 
Eu viverei trancado em mim como no inferno 
Queimando minha carne até sua própria cinza. 

Mas permanecerei imutável e austero 
Certo de que, de amor, sei o que ninguém soube 
Como uma estátua prisioneira de um castelo 
A mirar sempre além do tempo que lhe coube. 

E isento ficarei das antigas amadas 
Que, pela Lua cheia, em rápidas sortidas 
Ainda vêm me atirar flechas envenenadas 
Para depois beber-me o sangue das feridas. 

E assim serei intacto, e assim serei tranqüilo 
E assim não sofrerei da angústia de revê-las 
Quando, tristes e fiéis como lobas no cio 
Se puserem a rondar meu castelo de estrelas. 

E muito crescerei em alta melancolia 
Todo o canto meu, como o de Orfeu pregresso 
Será tão claro, de uma tão simples poesia 
Que há de pacificar as feras do deserto. 

Farto de saber ler, saberei ver nos astros 
A brilharem no azul da abóbada no Oriente 
E beijarei a terra, a caminhar de rastros 
Quando a Lua no céu contar teu rosto ausente. 

Eu te protegerei contra o Íncubo 
Que te espreita por trás da Aurora acorrentada 
E contra a legião dos monstros do Poente 
Que te querem matar, ó impossível amada!

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