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De madrugada, na alta serra...

Rio de Janeiro , 2004

De madrugada, na alta serra 
Desencanta-se o Príncipe da Terra 
De madrugada, na alta serra 
Ouve-se a voz que aterra 
O canto pressago, frio como um sorriso 
Do Príncipe da Terra 

Disse-me o vento 
O vento uivante, o vento uivante 
Na minha insônia em sangue 
De madrugada, na alta serra 
Desencanta-se o Príncipe da Terra 
E as mulheres, geladas 
Abandonam as casas, criam asas 
Para ir ouvir o Príncipe da Terra 
Cujo canto é frio como um sorriso. 

Possui-as o Príncipe da Terra 
Na alta serra 
O grande invertido, o mágico, o louco 
O amante sem sexo 
Cuja cabeleira é de platina 
E que tem pupilas brancas 

Ah, quem me dirá - oh, desvario 
Da minha poesia no fundo do espelho da bruma 
Que o vento uivante, o vento uivante 
Não seja a voz do Príncipe da Terra 
Cantando o amor e a morte 
Na alta serra? 

Eu sou o Príncipe da Terra 
O inutilmente desaventurado 
Eu sou o Príncipe Indiferente 
O deus do crime, o bem-amado 
Eu sou o Príncipe Altair 
Sexo fui, castrado 
Plantado, tornado árvore, raiz 
Garra de ódio no ventre da morte 
Hoje sou o Príncipe Eunuco 

De vos conseguir indesejados 
Vossa boca para os meus lábios mecânicos 
Vossos dedos para os meus seios de pedra 
Vosso ventre para a minha espada de aço 
Ó fazedoras de espasmos 
Eu sou o Príncipe da Terra 
Ó súcubo Altair 
Cerzi a traição inconsciente 
Alucinai! 
De vós nascerá a dor invisível 
Que deita lama no coração 
Eu sou o Príncipe Impotente 
O Cão hermafrodita 
Meu beijo é veneno em vossos dentes 
Mordei! 
Percorrei mundos, transportai a morfina nas horas 
Plantai espelhos súbitos de morte nas almas.