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Da fidelidade

Rio de Janeiro , 2004

Há alguma coisa maior que nós mesmos que é a fidelidade a nós mesmos 
Flor espantosa que vive das águas cáusticas e das terras apodrecidas da prodigiosa extensão humana. 
É a sua santidade que eu quero fazer nascer destas palavras de ritmo obscuro 
E neste momento mesmo é talvez a sua inocência que eu violento com os meus dedos mártires que a desejariam sangrando. 
Ela nasce desse instante supremo em que o homem que viu a verdade sente que a sua simplicidade trágica nada poderá contra ele 
Ele que é como o país que vê a guerra no pássaro de arribação que se pousou da grande viagem sobre o seu pavilhão estendido. 
Não existe talvez nada mais belo que a miséria que habita essa alma que nós mostramos como um pavilhão estendido ao pássaro peregrino 
E talvez nada mais horrível que essa guerra que se vê nascer subitamente das entranhas da nossa miséria 
A fidelidade é como o amor da miséria pelo eterno viajante sereno 
É como um homem que à força de contemplar um rio é por sua vez comtemplado por ele. 
Se é que há um lugar de Deus em cada criatura nada será fidelidade senão a fidelidade à falta de Deus neste lugar 
Aos sentimentos e nunca à verdade porque a verdade é o símbolo do absoluto e o absoluto é a morte do homem. 
Ai de mim! talvez eu devesse morrer porque eu digo as palavras da fé com gestos de inteligência. 
Fidelidade, lírio, anjo, mar de pureza!